segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Catequese e liturgia

Fonte:  http://www.portalum.com.br

Por: FREI JOSÉ ARIOVALDO DA SILVA

 A Constituição "Sacrosanctum Concilium" sobre a Liturgia (SC) resgatou valores importantíssimos e até essenciais da tradição antiga que se haviam "esquecido" ou simplesmente "perdido" no segundo milênio.
Entre esses valores, por exemplo: a centralidade o mistério pascal na celebração; a consciência da presença real do Senhor na globalidade da celebração; a liturgia como a principal fonte de espiritualidade cristã; os sacramentos como celebração (atualização) do mistério pascal; a centralidade da Palavra e o contato direto de todos com a Palavra de Deus proclamada na celebração; o caráter comunitário da Liturgia (a assembleia como povo sacerdotal, corpo de Cristo, toda ministerial, com participação ativa, consciente e plena de todos na celebração e na vida; o jeito de celebrar adaptado aos diferentes povos com sua cultura; a nobre simplicidade da liturgia romana, com a preocupação de se ater ao essencial, a saber, o mistério celebrado etc.
Isso tudo implica, como consequência, o necessário resgate da compreensão da Catequese antes de tudo como "eco" do mistério experimentado, vivenciado (nível da experiência!) na Liturgia ("eco" original!), própria da tradição antiga da Igreja. Pois na Liturgia não falamos sobre Deus, mas Deus fala para nós e nós falamos com Ele: experiência de aliança, a melhor fonte da Catequese!
A SC afirma que a participação plena, consciente e ativa do povo nas celebrações litúrgicas é de "direito e obrigação" do povo cristão. Tal "direito e obrigação" provém da própria natureza da Liturgia e da força do batismo. Pois ela (a participação plena, consciente e ativa nas celebrações litúrgicas) "é a primeira e necessária fonte, da qual os fiéis haurem o espírito verdadeiramente cristão. E por isso, mediante instrução devida, deve ser buscada com muito empenho pelos pastores de almas em toda ação pastoral" (SC 14). Por quê? É que "na Liturgia Deus fala a seu povo. Cristo ainda anuncia o Evangelho" (SC 33). Consequentemente - e aí vem a Catequese! - "seja inculcada, por todos os modos, a catequese mais diretamente litúrgica" (SC 35,3).
Assim sendo, falando diretamente da Catequese e, ao mesmo tempo com outro olho na Liturgia, o Concílio pede que, pela educação cristã, entre outras coisas, as pessoas "aprendam a adorar a Deus em espírito e verdade (cf. Jo 4,23), sobretudo na ação litúrgica" (Decreto "Gravissimum Educationis" sobre a educação cristã: GE, n. 2). Assim (continua o Concílio), "... a formação catequética ilumina e fortifica a fé, nutre a vida segundo o espírito de Cristo, leva a uma participação consciente a ativa no mistério litúrgico e desperta para a atividade apostólica" (GE n. 4).
Antes, no Decreto "Christus Dominus" sobre o múnus pastoral dos bispos na Igreja, a Concilio adverte: "Preocupem-se que a instrução catequética, que tem por fim tornar viva, explícita e operosa a fé ilustrada pela doutrina, seja administrada com diligente cuidado quer às crianças e adolescentes, quer aos jovens e mesmo adultos... Esta instrução se baseie na Sagrada Escritura, na Tradição (antiga!), na Liturgia, no Magistério e na vida da Igreja" (CD n. 14).
O Catecismo da Igreja Católica, no que diz respeito à relação "Catequese e Liturgia", diz o seguinte: "'A liturgia é o ápice para o qual tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde emana toda a sua força' (SC 13). Ela é, portanto, o lugar privilegiado da catequese do povo de Deus. 'A catequese está intrinsecamente ligada a toda ação litúrgica e sacramental, pois é nos sacramentos, e, sobretudo, na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens' (Catechesi Tradendae 23). A catequese litúrgica tem em vista introduzir no mistério de Cristo (ela é 'mistagogia'), procedendo do invisível para o visível, do significante para o significado, dos 'sacramentos' para os 'mistérios'... O presente Catecismo... apresentará o que é fundamental e comum a toda a Igreja no tocante à liturgia como mistério e como celebração (Seção I), e em seguida os sete sacramentos e os sacramentais (Seção II)".
Numa palavra, na verdade, ambas (Catequese e Liturgia) precisam entrar num promissor caminho de permanente conversão recíproca.

Frei José Ariovaldo da Silva, OFM
Mestre em Sagrada Liturgia, professor do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis - RJ

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