- Falando ao povo, no Sermão da Montanha, o Divino Mestre transmite ensinamentos que se opõem categoricamente ao relativismo.
Lei natural e Dez Mandamentos
Para que possamos entender bem as afirmações de Nosso Senhor a respeito da Lei, vejamos o que escreve Monsenhor João Clá:
"Deus implantou na alma humana uma luz intelectual pela qual o homem conhece que o bem deve ser praticado e o mal, evitado.
Essa luz - denominada sindérese pela
Escolástica - não se apagou com o primeiro pecado, mas permanece em
nossa alma. Conforme afirma o Concílio Vaticano II, o homem ‘tem no
coração uma lei escrita pelo próprio Deus', a lei natural.
"E como nosso espírito é governado por
uma lógica monolítica, não conseguimos praticar qualquer ação má sem
procurar justificá-la de alguma maneira. Por isso, para poder pecar, o
homem recorre a falsas razões que sufocam sua reta consciência e levam o
entendimento a apresentar à vontade o objeto desejado como um bem. É
essa a origem dos sofismas e doutrinas errôneas com os quais procuramos
dissimular nossas más ações.
"À vista disso, tornou-se indispensável -
além do selo impresso por Deus no mais íntimo das nossas almas - a
existência de preceitos concretos a lembrar-nos de forma clara e
insofismável o conteúdo da lei natural. São eles os Dez Mandamentos
entregues por Deus a Moisés no Monte Sinai.
"Com efeito, de modo muito sintético,
compendia o Decálogo as regras postas por Deus na alma humana. Deus
‘escreveu em tábuas' o que os homens ‘não conseguiam ler em seus
corações', afirma Santo Agostinho. E o fato de ter sido gravado em pedra
- elemento firme, estável e duradouro - simboliza o caráter perene da
sua vigência.
O Decálogo é essencialmente imutável
Afirmou o Divino Mestre: "Em verdade, Eu
vos digo: antes que o Céu e a Terra deixem de existir, nem uma só letra
ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra" (Mt 5, 18).
Continua Monsenhor João Clá:
"Os
adeptos da chamada ‘moral de situação' defendem a mutabilidade dos
princípios éticos em função do contexto no qual são eles aplicados.
Segundo essa filosofia, se os costumes evoluem ao longo dos tempos, o
mesmo deve ocorrer com as normas morais.
"Ou então, mesmo admitindo serem elas
universais e perenes, deve-se evitar sua aplicação de forma absoluta nas
situações concretas, reduzindo seu valor ao de meras orientações a
serem ponderadas em função das circunstâncias do momento.
"Ora, a Lei sintetizada nos preceitos do
Decálogo é absoluta e permanente, conforme ensina o Catecismo da Igreja
Católica: ‘Visto que exprimem os deveres fundamentais do homem para com
Deus e para com o próximo, os Dez Mandamentos revelam, em seu conteúdo
primordial, obrigações graves. São essencialmente imutáveis, e sua
obrigação vale sempre e em toda parte. Ninguém pode dispensar-se
deles.'".
E Jesus acrescentou: "Portanto, quem
desobedecer a um só destes Mandamentos, por menor que seja, e ensinar os
outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus.
Porém, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino dos
Céus" (Mt 5, 19).
Pior que desobedecer aos preceitos da
Lei divina é criar ou propagar uma doutrina, modas, que incitem as
pessoas a transgredi-los.
"Quem assim procede perde, sem dúvida, a
graça de Deus e, caso não se emendar, ‘será considerado mínimo no
momento do Juízo; ou seja, será reprovado, será o último. E o último
cairá inexoravelmente no Inferno'.
Perda do senso moral
Afirmou também Jesus, nesse Sermão:
"Seja o vosso ‘sim': ‘Sim', e o vosso ‘não': ‘Não'. Tudo o que for além
disso vem do maligno" (Mt 5, 37).
Devo sempre dizer "sim" a tudo quanto
Cristo espera de mim. E um firme "não" às propostas e sugestões do
demônio, bem como às pessoas e aos ambientes que me induzem ao pecado.
Escreve Plinio Corrêa de Oliveira:
Muitas
vezes me deixei levar "pela abominável preguiça de enfrentar os que me
rodeiam, de dizer ‘não' aos que formam meu ambiente, pelo medo de ser
‘diferente dos outros'. Como se me tivésseis criado, Senhor, não para
Vos imitar, mas para imitar servilmente os meus companheiros".
A leitura desses trechos do Evangelho
nos reporta a "um dos problemas mais graves do mundo moderno: a terrível
perda do senso moral que assola as almas de tantos dos nossos
contemporâneos".
Devido ao relativismo, as noções de
verdade e erro, bem e mal, belo e feio estão se esboroando. Adulterando o
próprio conceito de liberdade, propaga-se a ideia de que tudo é
permitido e todas regras ou preceitos devem ser abolidos.
"Hoje, mais do que nunca, é preciso
lembrar que a Lei de Deus não é um castigo pelo pecado dos nossos
primeiros pais, mas sim um precioso meio de nos tornar mais semelhantes a
Ele. [...] São as faltas praticadas pelo homem - e não os preceitos
divinos - que tolhem sua liberdade: ‘todo homem que se entrega ao pecado
é seu escravo' (Jo 8, 34).
"No Céu, a Lei reluzirá gloriosa para
aqueles que a praticaram nesta vida, os Bem-aventurados; enquanto se
apresentará como eterna censura aos que se revoltaram contra ela e foram
condenados ao fogo eterno. Dessa inexorável alternativa, ninguém
escapa: quem não está na Lei da misericórdia divina, cai na Lei da
justiça de Deus. Não há uma terceira opção."
Peçamos a Nossa Senhora a graça da
seriedade sacral e da combatividade invencível para nos opormos
eficazmente aos erros do mundo atual, a fim de estarmos unidos a seu
Divino Filho.
Por Paulo Francisco Martos(Noções de História Sagrada - 159
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