Fonte: http://www.gaudiumpress.org
A Esperança pode ser
compreendida na ordem natural e na ordem sobrenatural. Naturalmente ela designa
uma paixão, enquanto um movimento da sensibilidade que tende para um bem
sensível ausente, mas que pode ser alcançado ainda que com dificuldade, e um
sentimento, entre os mais nobres do coração humano, que se dirige a um bem
honesto ausente. É um sentimento de grande importância, pois sustenta o homem
em seus empreendimentos difíceis. De maneira sobrenatural, a Esperança sustenta
o católico em meio às dificuldades relativas à sua santificação e salvação; tem
por objeto as verdades reveladas que se referem à vida eterna e aos meios de
adquiri-la, e se funda na onipotência e bondade divinas. Deter-nos-emos neste
trabalho na análise da esperança sobrenatural e, dentro desta, seu papel em
nossa santificação.
A Esperança contribui para a
nossa santificação de três maneiras principais: primeiro, une-nos a Deus;
segundo, dá eficácia às nossas orações; terceiro, torna-se princípio de
atividade fecunda. Une-nos a Deus desapegando-nos dos bens terrenos. A todo
momento somos solicitados pelos prazeres sensíveis, pelo orgulho, pela
sensualidade... enfim, pelas alegrias, legítimas e ilegítimas, da esfera
natural. No entanto, a esperança quando apoiada numa fé viva e ardente,
mostra-nos que a todas as felicidades terrenas faltam dois elementos
essenciais: a duração e a perfeição. Nenhum bem terreno é suficiente de si para
satisfazer o ser humano uma vez que este foi criado por Deus com sede do
infinito. Após o deleite, sempre há o enfado e saciedade. A nossa inteligência
jamais se dá por satisfeita sem o conhecimento da causa perfeita, e o nosso
coração não se contenta a não ser em Deus. Só Ele é a plenitude do Bonum, Verum
e Pulchrum. E bastando a Si mesmo, evidentemente, basta-nos a nós.
A esperança, unida à virtude
da humildade, dá eficácia às nossas orações e nos obtém dos céus os favores de
que necessitamos. Ensina-nos o Eclesiástico: « scitote quia nullus speravit in
Domino et confusus est. Quis
enim permansit in mandatis ejus, et derelictus est, aut quis invocavit eum, et
despexit illum? Quoniam pius et misericors est Deus, et remittet in die
tribulationis peccata (Ecle. 2, 11-12). » Em seus milagres, Cristo
nosso Senhor, jamais desprezou quem a Ele recorreu com confiança. Não atendeu
Ele o centurião, o paralítico descido pelo telhado, os cegos de Jericó, a
Cananéia, a pecadora pega em adultério e o leproso? Ademais, não prometeu ele
que "Amen, amen, dico vobis, si quis petieritis Patrem in nomime meo, dabit
vobis" (Jo 16, 23)? Afinal, nada honra tanto a Deus como a confiança Nele
que não se deixa vencer em generosidade, concedendo superabundantes graças.
Por fim, a esperança é um
princípio de atividade fecunda. Primeiro, por que produz santos desejos, em particular
o anelo do Céu e de Deus. Ora, esse anseio dá à alma o impulso e o ardor
necessários para alcançar o bem suspirado e ampara os esforços empregados para
a obtenção do fim desejado. Segundo, aumenta-nos as energias por meio da
expectativa de uma recompensa que superará em muito os nossos empreendimentos.
Se no mundo se trabalha com tanto afã para adquirir bens perecíveis, que as
traças corroem e os ladrões roubam, com quanto mais razão não devemos nós
esperar, quando buscamos uma coroa incorruptível! Dá-nos, ainda aquela coragem,
certeza e constância que a convicção do triunfo produz. Então, é isto que nos
dá a esperança, pois apesar de fracos de nós mesmos, somos fortes pela própria
força de Deus.
Por Rafael Juneo Pereira
Fonseca
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