FONTE: http://www.gaudiumpress.org/
A cada dia aumenta o volume de cartas, telefonemas e
e-mails de pessoas que recorrem às orações dos Arautos do Evangelho por
sentirem-se desoladas, abandonadas e, até mesmo, traídas por aqueles dos quais
esperavam receber maior apoio e solidariedade.
Às vezes, são pessoas unidas pelos fortes laços da
natureza as que defraudam e ferem os corações de seus mais próximos.
Numa das últimas cartas, uma frase resume bem a
situação de inúmeros outros remetentes: "Já não tenho em quem
confiar".
Uma realidade tão cruel atrai a compaixão... O
principal remédio, sem dúvida, é a oração, mas não haverá algo mais a fazer
para ajudar nossos irmãos e irmãs nessa situação dramática, tão difundida por
toda parte? O ideal seria cada um deles ter um conselheiro fiel sempre à
disposição, que, por pura amizade, os orientasse, consolasse, encorajasse. Um
amigo de verdade, em quem pudessem depositar toda a sua confiança.
Eis uma utopia, um problema para o qual parece não
haver solução, pelo menos em termos humanos. Com efeito, onde encontrar tantas
pessoas assim? Entretanto, muitos de nós, se olharmos para trás, para o tempo
dourado de nossa infância, quando, ajudados por nossas mães, começávamos a
rezar nossas primeiras orações, talvez nos lembremos de alguém que sabíamos
estar sempre ao nosso lado, e a quem chamávamos de "zeloso
guardador". Um ser ao qual talvez tenhamos muito recorrido, e cuja figura
ficou depois empoeirada nalgum canto de nossas recordações.
Tomo, pois, a liberdade de lhe recordar, leitor, a
existência desse amigo invisível, mas presente constante e fielmente ao nosso
lado, poderoso e amável, que vive sempre na contemplação de Deus e, ao mesmo
tempo nunca deixa de cuidar de nós: o Anjo da Guarda.
Ele nos quer todo o bem
Desde o início de sua vida até o momento de passar
para a eternidade, todo ser humano é cercado pela proteção e intercessão de um
anjo designado por Deus para o guiar, proteger e orientar. Assim, cada um de
nós tem um Anjo da Guarda.
Provavelmente, quase todos nós aprendemos em casa, ou nas
aulas de catecismo, a clássica oração: "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso
guardador, já que a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, guarda,
governa e ilumina. Amém". Apesar disso, talvez tenha escapado alguma vez
de nossos lábios uma pergunta, repassada mais de admiração do que de dúvida:
"Então eu tenho mesmo um anjo incumbido por Deus de cuidar de mim?" É
realmente admirável o fato de cada um de nós possuir um anjo cuja missão
específica é favorecer-nos em tudo quanto se relacione com nossa salvação
eterna, mas é essa a realidade: Deus "os fez mensageiros de seu projeto de
salvação", afirma o Catecismo da Igreja Católica. E diz São Paulo:
"Não são todos os anjos espíritos ao serviço de Deus, o qual lhes confia
missões para o bem daqueles que devem herdar a salvação?" (Hb 1,14).
"Grande é a dignidade das almas - exclama São
Jerônimo -, quando cada uma delas, desde a hora de seu nascimento, tem um anjo
destinado para sua custódia!" É muito reconfortante saber que um ser
superior à nossa natureza está continuamente a nosso lado; que ele, puro
espírito, mantém-se na contemplação incessante de Deus e, ao mesmo tempo, vela
por nós, quer-nos todo o bem, e seu objetivo é levar-nos para a felicidade
perfeita e infindável do Céu.
Quando nos damos conta da presença desse incomparável
guardião, estabelecemos com ele uma amizade firme e íntima, como descreve o
grande escritor francês Paul Claudel: "Entre o anjo e nós existe algo
permanente.
Há uma mão que, ainda quando dormimos, não solta a
nossa. Sobre a terra onde nos encontramos, compartilhamos o pulso e o latejar
do coração desse irmão celeste que fala com o nosso Pai".
Se tivéssemos maior confiança nesse celeste protetor,
nesse bom amigo que nunca falha - ainda quando dele nos afastamos, por nossa má
conduta -, seríamos capazes de recobrar a paz e o equilíbrio dos quais tanto
precisamos!
Eles estão a nosso lado, incansáveis, solícitos,
bondosos
A Bem-Aventurada Hosana Andreasi, de Mântua (Itália),
ainda com seis anos de idade, tomara o gosto de passear pelas margens do Rio
Pó, extasiada com a beleza do panorama. Um dia encontrava-se sozinha nesse
lugar, quando de repente viu surgir diante de si um belo jovem, alto e forte.
Nunca o havia visto antes... Surpresa, mas não amedrontada, ouviu o recém-chega
chegado dizer com voz clara, ao mesmo tempo suave e firme: "A vida e a
morte consistem em amar a Deus". Sua surpresa aumentou quando o
"jovem" a ergueu do chão e, olhando-a diretamente nos olhos,
acrescentou: "Para entrar no Céu, você precisa amar muito a Deus.
Ame?O. Tudo foi criado por Ele, para que as pessoas O
amem". Foi este o primeiro de numerosos encontros que Hosana teve, até seu
falecimento (em 1505), com seu Anjo da Guarda.
Casos como esse, de relacionamento intenso com os
anjos, não são nada raros. Santa Gemma Galgani (1878- 1903), por exemplo, teve
a constante companhia de seu anjo protetor, com quem mantinha um trato familiar.
Ele lhe prestava todo tipo de ajuda, até mesmo levando suas mensagens para seu
confessor, em Roma.
Ainda mais próximos de nós, encontramos os episódios
freqüentes ocorridos com São Pio de Pietrelcina (1887-1968), grande
incentivador da devoção aos Anjos da Guarda. Em diversas ocasiões ele recebeu
recados dos Anjos da Guarda de pessoas que, à distância, necessitavam de algum
auxílio dele.
O Beato João XXIII, outro grande devoto dos anjos,
dizia: "Nosso desejo é que aumente a devoção ao Anjo-custódio". Nossos
anjos guardiães estão ao lado de cada um de nós, incansáveis, solícitos,
bondosos, prontos para nos ajudar em tudo quanto precisarmos - inclusive em
nossas necessidades materiais, mas especialmente para nos proporcionar os bens
espirituais, auxiliando- nos a caminhar na via da virtude.
Estimado leitor, queira Deus que esses pensamentos,
tirados da Revelação e do tesouro da Santa Igreja, possam nos ajudar a nos
tornarmos mais próximos desses fiéis amigos celestiais, consolando-nos e
animando- nos. E aumentar nossa vontade de conhecê-los sem os sagrados véus da
fé, quando nos encontrarmos lá no alto, no Reino dos Céus.
Os outros anjos...
Além dos Anjos da Guarda, outros espíritos angélicos
vagam pela terra e têm um extremo interesse em nós... Para nossa perdição: os
demônios, anjos decaídos, que outrora faziam parte da corte celestial.
Revoltando- se contra Deus, passaram a trabalhar com um objetivo diametralmente
oposto àquele para o qual Ele os criou. Sua preocupação única e obsessiva é a
de nos fazer perder a possibilidade de contemplarmos a Deus por toda a
eternidade. A isso os movem o ódio a seu Criador, cujo plano para a humanidade
desejam obstruir, e a inveja do gênero humano, pois somos capazes de alcançar
aquela felicidade eterna que eles perderam para sempre.
Se os demônios tanto nos perseguem, por que não
recorrermos ao Anjo da Guarda, pedindo sua proteção? Certamente, crescer no
relacionamento com ele significará estar mais defendido das ações dos espíritos
malignos, e ser mais ajudado na luta contra as tentações.
Diz São João da Cruz: "Os anjos, além de levar a
Deus notícias de nós, trazem os auxílios divinos para nossas almas e as
apascentam como bons pastores (...) amparando-nos e defendendo-nos dos lobos,
os demônios".
Confiando-nos inteiramente aos nossos Anjos da Guarda,
não precisamos temer os demônios. Afinal, estes últimos nada conseguem contra o
poder daqueles.
(Revista Arautos do Evangelho, Out/2006, n. 58, p. 34
e 35)
Por Padre Carlos Werner Benjumea
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