FONTE: http://www.gaudiumpress.org
Por: Dom Walmor Oliveira de
Azevedo, Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
O Papa Bento XVI, solenemente,
inaugurou o Ano da Fé - convocação à Igreja Católica no mundo inteiro, aos
homens e mulheres de boa vontade - no dia 11 de outubro de 2012. Esta data é
muito importante na história bimilenar da Igreja Católica. Em 11 de outubro de
1962, o Bem-Aventurado João XXIII inaugurava o Concílio Vaticano II, que reuniu
bispos do mundo inteiro ao longo dos anos seguintes e foi concluído em 7 de
dezembro de 1965, pela figura também admirável do Papa Paulo VI. A abertura do
Ano da Fé coloca a Igreja Católica no esplendoroso e desafiador horizonte que o
Concílio Vaticano II desenhou para seu caminho missionário. Um horizonte que
permanece rico e atual, exigindo um debruçar-se sobre suas fontes, os
riquíssimos documentos conciliares, para acertar o passo da Igreja no mundo,
sua abertura e competência dialogal. Celebrar o Concílio Vaticano II é renovar
o coração da Igreja com a novidade do Evangelho e cumprir a tarefa missionária
que o seu Senhor e Mestre, Jesus Cristo, a confiou: fazer de todos seus
discípulos.
Neste primeiro ano de celebrações
e nova escuta dos ensinamentos do Concílio Vaticano II, com a vivência do Ano
da Fé, é tempo para avaliar os diferentes caminhos na evangelização da cultura
e o sentido que a humanidade está dando para a vida, seu destino e suas razões.
Na homilia da Celebração Eucarística conclusiva do Concílio Vaticano II, o Papa
Paulo VI pôs a questão que agora, na festa do cinquentenário desse magnífico
evento, deve ecoar nas mentes com ainda mais força: qual foi a importância
religiosa do Concílio? Nesse exercício, é oportuno pensarmos em nosso
relacionamento com Deus. Pensarmos na razão da existência da Igreja e qual
espaço dedicamos à fé. Pensarmos sobre o que a Igreja é, o que faz, sua
esperança, seu amor. É hora de avaliar para fazer os ajustes devidos e os
alinhamentos inadiáveis no caminho da Igreja missionária e servidora do
Evangelho no mundo, como frisou o Bem-Aventurado João XXIII, na inauguração do
Concílio Vaticano II: "O que mais importa ao Concílio é que o depósito
sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz".
A Igreja fez este caminho, de
1962 a 1965, e o fará agora, durante o Ano da Fé. A Igreja quer, como disse o
Papa Paulo VI naquela homilia de conclusão do Concílio, pensar sobre si mesma
para melhor se conhecer, melhor se definir e, consequentemente, melhor dispor
os seus sentimentos e seus preceitos. A Igreja fez este caminho conciliar e o
faz agora, refletindo o íntimo de sua consciência, não como ostentação de pura
cultura terrena, nem para se comprazer de eruditas análises sobre a psicologia
religiosa, sobre a história, para reafirmar os seus direitos ou para formular
suas leis. Como naquele memorável acontecimento, o Concílio Vaticano II, hoje a
Igreja Católica está consciente do quanto precisa, conforme afirma o Papa Paulo
VI, "encontrar em si a palavra de Cristo, viva e operante no Espírito
Santo, para sondar mais profundamente o mistério, ou seja, o desígnio e a
presença de Deus, fora e dentro de si". Nesta jornada, sublinha o Papa, a
Igreja busca "renovar em si a chama da fé, que é o segredo de sua
segurança e de sua sabedoria, e reavivar o fogo do amor que a obriga a cantar
sem descanso os louvores de Deus".
Esta é a hora bendita de reavivar
a chama da fé, de modo autêntico e fecundo, e convidar a humanidade inteira a
encontrar, como diz Santo Agostinho, aquele Deus "de quem afastar-se é
cair, a quem dirigir-se é levantar-se, em quem permanecer é estar firme, a quem
voltar é renascer, em quem habitar é viver". O Ano da Fé, 11 de outubro
deste ano a 24 de novembro de 2013, é a sábia indicação e convocação do Papa
Bento XVI, enriquecida pela 13ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, em
curso no Vaticano, para abrir à humanidade, às diferentes culturas e segmentos,
a porta da fé.
Seguindo o exemplo do apóstolo
Paulo, que pregava a Palavra de Deus ancorado no testemunho, sustentado pelo
Espírito Santo, é hora de rever, modificar, tirar, substituir, aprofundar e
qualificar o modo de ser. Assim, consegue-se o êxito da proeza missionária do
apóstolo de abrir a porta da fé aos que estão distantes e qualificar os que
nela vivem como encontro pessoal com Jesus Cristo. Vivemos agora a esperançosa
oportunidade de rever, avaliar, escutar, planejar, de modo novo e eficaz, para,
conforme indicação do Papa Bento XVI, corresponder à exigência de redescobrir o
caminho da fé. Assim, ilumina-se a possibilidade do encontro pessoal com Jesus
Cristo. É o momento, ensina o Papa, de dar ao tecido cultural, com
consequências sociais, políticas e humanitárias, o que só o encontro com Cristo
pode proporcionar e garantir. O Ano da Fé convoca todos a voltarem, de modo
mais convincente e existencial, a Jesus Cristo, para estar com Deus, na força
do Espírito Santo. Os programas, celebrações, vivências, planejamentos,
estratégias e dinâmicas têm a exigente tarefa de abrir a porta da fé.
Sem comentários:
Enviar um comentário