Santo Agostinho - "Ao amar o teu inimigo, desejas que
ele seja para ti um irmão. Não amas o que ele é, mas aquilo em que
queres que ele se torne. Imaginemos um pedaço de madeira de carvalho em
bruto. Um artesão hábil vê essa madeira, cortada na floresta; a madeira
agrada-lhe; não sei o que ele quer fazer dela, mas não é para a deixar
como está que o artista gosta dela. A sua arte faz com que veja em que é
que se pode transformar essa madeira; o seu amor não é dirigido à
madeira em bruto; ele ama o que fará com ela e não a madeira em bruto.
Foi assim que Deus nos amou quando
éramos pecadores. Na verdade, Ele disse: «Não são os que têm saúde que
precisam de médico, mas sim os doentes». Ter-nos-ia Ele amado pecadores
para que permanecêssemos pecadores? O Artesão viu-nos como um pedaço de
madeira em bruto, vindo da floresta, e o que tinha em vista era a obra
que nela faria, não a madeira em si, nem a floresta.
Contigo passa-se a mesma coisa: vês o
teu inimigo opor-se-te, encher-te de palavras mordazes, tornar-se rude
nas afrontas que te faz, perseguir-te com o seu ódio. Mas tu estás
atento ao facto de ele ser um homem. Vês tudo o que esse homem fez
contra ti, mas também vês nele aquilo que foi feito por Deus. Aquilo que
ele é, enquanto homem, é obra de Deus; o ódio que te tem é obra dele. E
que dizes tu para contigo? «Senhor sê benevolente para com ele,
perdoa-lhe os pecados, inspira-lhe o Teu temor, converte-o.» Não amas
nesse homem aquilo que ele é, mas aquilo que queres que ele venha a ser.
Assim, quando amas um inimigo, amas nele um irmão".
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