domingo, 23 de outubro de 2011

Roteiro Homilético – XXX Domingo do Tempo Comum – Ano A


A questão posta a Jesus tinha como base a multiplicidade de leis mosaicas, ao todo 613.
37 «Jesus respondeu», citando uma passagem do A.T. (o texto é mais exacto em Mc 12, 29-30), que todo o judeu piedoso recitava duas vezes por dia – a chamada Xemá – e que muitos escreviam e metiam dentro das filactérias ou caixinhas que atavam à testa, ao braço esquerdo ou às costas da mão (cf. Dt 6, 4-9).
38-39 «O primeiro mandamento… O segundo…». Sendo inseparáveis estes dois preceitos, há neles uma jerarquia: devemos amar a Deus mais do que a ninguém e dum modo incondicional; ao próximo, como consequência e efeito do amor a Deus. Se amasse ao próximo por ele mesmo, e não por amor a Deus, esse amor impediria o cumprimento do primeiro mandamento e deixaria de ser autêntico amor ao próximo, pois entrar-se-ia pelo caminho de pouco se interessar pela sua salvação eterna e de vir a reduzir o próximo a uma determinada classe de pessoas, as que agradam ou oferecem vantagens, ou de o equiparar ao amor a um cachorrinho ou a um gato de estimação.

Sugestões para a homilia
O mais importante da vida.
A nossa correspondência ao amor de Deus.
A importância do amor ao próximo.
Como a vida será bem aproveitada.

1. O mais importante da vida.
Deus, que é Amor, criou-nos por amor e criou-nos para amar, pelo que, o amor, surge como o «habitat» natural e sobrenatural do nosso viver. Feliz quem ama e sabe amar. Por isso, à pergunta do doutor da Lei, Jesus afirma que no amor a Deus e ao próximo se resume toda a Lei e os Profetas.
Os rabinos de então descobriram na Bíblia 613 mandamentos: 365 proibições e 248 acções o que gerava em todos uma grande confusão. Era assim demasiado pesado o fardo que colocavam sobre as pessoas. Além disso, discutiam qual deles seria o maior. Havia quem afirmasse, que o mais importante, deveria ser o descanso de Sábado. No meio de tantas dúvidas, como vimos no Evangelho de hoje, um doutor da Lei, para experimentar Jesus, perguntou-Lhe: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?» E Jesus imediatamente respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito». Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». «Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas».
2. A nossa correspondência ao Amor de Deus.
Não podemos ter dúvidas, o Senhor, que é a Verdade, foi bem claro. Estaremos a aproveitar tanto melhor o tempo que Deus nos dá, quanto mais O amarmos de todo o coração. Ele não aceita corações divididos. Esta doação total concretiza-se com o cumprimento generoso e alegre da vontade do mesmo Deus. Para que seja possível esta maneira tão proveitosa de viver, é necessário que se dê prioridade à oração e à recepção assídua dos Sacramentos, onde se encontra a verdadeira fonte do Amor e a força para amar e para cumprir, com fidelidade, o plano amoroso que Deus a cada um quis conceder. Tudo isto pressupõe um plano de vida levado muito a sério. Com tais pressupostos essenciais, a vida será bem vivida e como que transformada em oração, com a possibilidade do tão necessário amor, não só existir, mas também crescer em nós. Assim, tudo poderá ser grande diante de Deus, pois que a grandeza das coisas depende apenas do amor com que são executadas.
3. A importância do nosso amor ao próximo.
Como vimos, Jesus chamou a atenção para a importância do amor ao próximo, equiparando-o ao próprio amor a Deus. Ele quer a salvação de todos os homens. Por todos morreu na cruz. Não podemos dizer que amamos a Deus, se não amamos o que Ele ama também. E o próximo, que Ele ama, são todos os outros. Todos, sem excepção: os nossos amigos e inimigos, santos e pecadores. Este amor aos outros, além de universal, deverá ser sincero e constante. Amar é estar ao serviço, atento às necessidades dos outros. Podemos mesmo afirmar que «o egoísmo é o suicídio do amor». Assim o amor aos outros surge como indicador do verdadeiro amor a Deus. A primeira Leitura chama particularmente a atenção para o socorro a prestar aos órfãos e às viúvas, isto é, aos mais carenciados e marginalizados da sociedade.
Esta preocupação pelos outros, não pode limitar-se às carências de bens materiais. Importa que todos encontrem também o verdadeiro caminho da salvação. Caminhos que temos também obrigação de apontar com o nosso viver. Na hora que passa, existem por aí, tantos desvios doutrinais no campo da justiça e da moral, concretamente na vivência da sexualidade, nas infidelidades conjugais, na mesquinhez verificada na aceitação dos filhos e sua educação integral, em tanta rejeição ao magistério da Igreja, na vida de namoro, no cumprimento de todos os mandamentos de Deus. Sinais desses caminhos errados estão certos comentários feitos recentemente a propósito dos 40 anos da maravilhosa e corajosa Encíclica de Paulo VI «Humanae Vitae».
Como Jesus lembra «que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma?»
Importa que todos, todos se salvem. É urgente lançar-lhes uma mão salvadora.
Como é importante preocuparmo-nos com a sorte eterna de todos. Rezar pela conversão dos pecadores foi um dos grandes pedidos de Nossa Senhora, em Fátima, afirmando mesmo que «vão muitas almas para o inferno, por não haver quem se sacrifique e peça por elas». Ensinou mesmo aos pastorinhos uma jaculatória para interceder por eles: «Ó meu Jesus perdoai-nos e livrai-nos do fogo do inferno…socorrei sobretudo as almas mais precisadas». E «as almas mais precisadas» são os pecadores que estão em maior perigo de se perderem.
Na segunda Leitura, S. Paulo, manifesta a sua alegria por saber que os Tessalonicenses se amam e assim se tornam exemplo vivo para todos os crentes.
4. Como a vida será bem aproveitada.
Um dia seremos julgados pelo amor. Assim, a nossa vida na terra, será bem vivida, bem aproveitada, se amarmos a Deus sobre todas as coisas, com todo o coração e a todo o próximo pelo Seu amor. Cada dia da vida que passa, deverá ser vivido com mais amor. Só com uma vida assim, estaremos, com a misericórdia do Senhor, no caminho do reino dos céus, que é o Reino do Amor.
Fala o Santo Padre: «No amor se resume toda a lei divina.»
[…] A liturgia de hoje convida-nos a contemplar a Eucaristia como fonte de santidade e alimento espiritual para a nossa missão no mundo: este sumo «dom e mistério» manifesta e comunica a plenitude do amor de Deus.
A Palavra do Senhor, que há pouco ressoou no Evangelho, recorda-nos que no amor se resume toda a lei divina. O dúplice mandamento do amor de Deus e do próximo contém os dois aspectos de um único dinamismo do coração e da vida. Assim, Jesus leva a cumprimento a revelação antiga, sem acrescentar um mandamento inédito, mas realizando em si mesmo e na própria acção salvífica a síntese viva das duas grandes palavras da antiga Aliança: «Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração…» e «Amarás o próximo como a ti mesmo» (cf. Dt 6, 5; Lv 19, 18). Na Eucaristia nós contemplamos o Sacramento desta síntese viva da lei: Cristo entrega-nos em si mesmo a plena realização do amor a Deus e do amor aos irmãos. Ele comunica-nos este seu amor quando nos alimentamos do seu Corpo e do seu Sangue. Pode então realizar-se em nós quanto escreve São Paulo aos Tessalonicenses na segunda Leitura de hoje: «convertestes-vos dos ídolos de Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro» (1 Ts 1, 9). Esta conversão é o princípio do caminho de santidade que o cristão está chamado a realizar na sua existência. O santo é aquele que, sentindo-se de tal forma atraído pela beleza de Deus e pela sua perfeita verdade, progressivamente por ele é transformado. Por esta beleza e verdade está pronto a renunciar a tudo, também a si mesmo. Para ele é suficiente o amor de Deus, que experimenta no serviço humilde e abnegado do próximo, sobretudo de quantos não são capazes de retribuir. […]
Bento XVI, Vaticano, 23 de Outubro de 2005

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