Tema apresentado pelo casal Dr.ª Ângela Tavares e Dr. José Maria Tavares no IIº Fórum da APC, em 16 de fevereiro de 2014
Tema: A EDUCAÇÃO INTEGRAL NA VISÃO DOS
EDUCADORES
CATÓLICOS
I.
Agradecimento
É com muita alegria que
recebemos o convite da Associação dos Professores Católicos de Cabo Verde,
através da Senhora presidente, Professora Fátima Sanches, para partilharmos convosco,
o que entendemos deva ser, a visão dos educadores católicos em relação à
educação integral.
Agradecemos o convite.
Começamos por felicitar-vos
por mais este aniversário, o vigésimo e, nestes 20 anos, muitas coisas boas
foram feitas e de certeza visavam também, a educação integral dos alunos.
II.
Nota Introdutória
O lema deste fórum - a
Escola e a Família, uma aliança necessária – tem toda a razão de ser no mundo
de hoje, pois é sobejamente sabido, que só com uma aliança muito forte entre
estas duas instituições educativas, é possível uma educação integral para os
nossos filhos e/ou educandos.
A educação é uma tarefa
fundamental da sociedade. Dela dependem, decisivamente, o desenvolvimento
harmonioso e integral das crianças, dos adolescentes e dos jovens, e a
qualidade do progresso da sociedade.
Para o Padre
Jerónimo Usera, fundador da Congregação do Amor de Deus, “a educação é o
desenvolvimento de todas as faculdades do educando. A promoção harmónica,
progressiva da pessoa, na linha do humanismo cristão, constitui assim o
objectivo do processo educativo”. A educação é para ele, “a melhor arma que se
pode dar a um ser humano, para que ele se desenvolva de forma plena”.
São Tomás de
Aquino considera que “é pela educação que o homem pode alcançar a sabedoria,
que, nessa medida, está intimamente ligada à responsabilidade e à liberdade”.
Dom Bosco,
fundador dos Salesianos, disse que “Educar o filho é uma bela missão pela qual
vale a pena gastar o tempo, o dinheiro e a vida; afinal, continua Dom Bosco,
estamos diante da maior preciosidade da vida: nossos filhos. Tudo será pouco em
vista da educação deles.
III.
Educação Integral
Vamos realçar alguns
aspectos que consideramos pertinentes, sobre o conceito da educação integral”.
Educação integral, na sua concepção teórica, prevê a formação do ser
humano em todas as suas dimensões, isto é, a oferta de oportunidades de acesso
às várias instâncias culturais da sociedade, e a visão do ser humano como um
ser composto por diversas camadas interrelacionadas que têm a ver não apenas com
a cognição, mas também com a emoção, a subjectividade, os desejos, a inteligibilidade
e a sociabilidade. É ainda importante ter em conta, um papel
crítico-emancipatório para a educação, estimulando a gradativa autonomia dos
educandos em sua formação, como cidadãos.
Para haver uma educação integral, o educando deve ser
formado não só do ponto de vista intelectual, mas também do ponto de vista,
afectivo, social, espiritual e físico. Para isso, é preciso que haja uma
integração de tempos e espaços, com a inclusão de diversos actores no processo
educativo. Assim sendo, a educação não deve limitar-se ao espaço escolar, nem
se apoiar exclusivamente no professor, mas é aquela em que os cidadãos se
envolvem e compartilham saberes, dentro ou fora da escola. Para o efeito,
precisa-se hoje de professores comunitários, que conheçam profundamente a
comunidade onde a escola se encontra inserida, e conta-se também com o
engajamento de famílias, do Estado, das Igrejas e da sociedade civil.
O pedagogo Paulo Freire critica a sociedade brasileira
da sua época, considerando que o fracasso educacional deve-se, em particular, a
técnicas de ensino ultrapassadas e sem conexão com o contexto socio-económico
do aluno. Ele considera ainda que, dentro da sociedade, os valores morais
e éticos estão cada vez mais perdendo seu respeito e que
com a globalização, a ética está agindo a favor dos interesses da economia e do
lucro que dela é gerado, não favorecendo os interesses humanos de convívio,
respeito e justiça.São Tomás de Aquino destaca a moral como dimensão
fundamental no aperfeiçoamento do ser humano que, assim, deve consistir no fim
último da educação: “a moral é o ser do homem, doutrina sobre o que o homem é e
está chamado a ser”.
Fazem parte da educação integral, enquanto projecto educativo, para
além daquilo que constitui o curriculum específico de cada disciplina, várias
actividades que têm a ver com o meio ambiente, o desporto e o lazer, os
direitos humanos e a cidadania, as artes e a cultura, a saúde, a educação
económica, religiosa e espiritual. E isto permite ao aluno aprender a “ler o
mundo para poder transformá-lo”, como defendia Paulo Freire, mentor da educação
para a consciência.O Papa Pio XI disse, numa encíclica sobre a educação
em 1929 que “Deus dividiu entre dois poderes o governo (isto é, a educação) do
género humano: o eclesiástico e o civil, um para prover às coisas divinas e
outro às humanas: ambos supremos, cada um na sua esfera; ambos têm confins
determinados… Mas como a estes dois poderes estão sujeitos os mesmos súbditos,
podendo dar-se que a mesma matéria, embora sob aspectos diversos pertença à
competência e juízo de cada um deles, Deus providentíssimo, de Quem ambos
dimanam, deve ter marcado a cada um, os seus caminhos. Para ajudar os educadores e os cidadãos a entenderem o
que é educação integral, fez-se uma compilação de dez pressupostos que envolvem
o conceito, que passamos a apresentar.
1. O direito a
uma educação de qualidade é a peça chave para a
ampliação e a garantia dos demais direitos humanos e sociais.
2. O objectivo final da educação
integral é a promoção do desenvolvimento integral dos
alunos, versando os aspectos intelectual, afectivo, social, físico e espiritual.
3. A educação não se esgota no espaço físico da escola nem no
período de tempo em que o aluno fica na escola.
4. A educação deve promover articulações e convivências entre educadores, comunidade e famílias, programas e serviços públicos, governos, ONGs e Igrejas , dentro e fora da escola.
5. A escola faz parte de uma rede que possibilita a compreensão da
sociedade, a construção de juízos de valor e do desenvolvimento integral do ser
humano.
6. Organizações e instituições da sociedade
precisam assumir que são também espaços educadores e podem agir como agentes educativos. Já
a escola precisa entender de que não é o único
espaço educativo.
7. O projecto politico-pedagógico deve
ser elaborado por toda a comunidade escolar, reflectindo a importância e a
complementaridade dos saberes académicos e comunitários.
8. Ficar mais tempo na escola não é
necessariamente sinónimo de educação integral; passar mais tempo em aprendizagens significativas, sim.
9. A escola funciona como um catalisador entre os espaços educativos e seu
entorno e serve como local onde os demais espaços podem ser ressignificados e
os demais projectos, articulados.
10.
Além de demandar a articulação de agentes,
tempos e espaços, a educação integral deve apoiar-se na articulação de políticas (cultura, desporto,
assistência social, meio ambiente, religião, saúde e outras) e programas.
IV.
A Família e a Educação integral dos filhos
Vamos de seguida, mostrar o papel das famílias,
na educação integral dos filhos.
“Porque deram a vida ao filho, contraem os pais
o dever gravíssimo de educar a prole” – Papa Paulo VI.
“Em primeiro lugar, com a missão educativa da Igreja, concorda
admiravelmente a missão educativa da família, porque de Deus procedem ambas, de
maneira muito semelhante. À família, de facto, na ordem natural, Deus comunica
imediatamente a fecundidade, que é princípio de vida, e por isso princípio de
educação para a vida, simultaneamente com a autoridade que é princípio de
ordem” (Carta Encíclica do Papa Pio XI).Considera o mesmo Papa que “o primeiro ambiente natural e necessário da
educação é a família, precisamente a isto destinado pelo Criador. De modo que,
em geral, a educação mais eficaz e duradoira é aquela que se recebe numa
família cristã bem ordenada e disciplinada, tanto mais eficaz quanto mais clara,
sobretudo quando conta com o bom exemplo dos pais”.O Papa Paulo VI disse na sua Encíclica Humanae Vitae
(1968) que "O matrimónio e o amor conjugal estão por si mesmos ordenados
para a procriação e educação dos filhos. Sem dúvida, os filhos são o dom mais
excelente do matrimónio e contribuem grandemente para o bem dos pais".
Sendo assim, continua o mesmo Papa, “o amor conjugal
requer nos esposos uma consciência da sua missão de "paternidade
responsável", sobre a qual hoje tanto se insiste, e justificadamente, e
que deve também ser compreendida com exactidão. De facto, ela deve ser
considerada sob diversos aspectos legítimos e ligados entre si”.
Nos nossos
tempos, devido a assumpção por parte das mulheres de mais responsabilidades no
mundo laboral e o trabalho exagerado de muitos pais, têm surgido novas formas
de relacionamento conjugal e familiar, com reflexo na educação dos filhos e,
consequentemente, no seu desempenho escolar. Aliás, muitos ainda pensam que
educação é tarefa da escola. Esta situação pode provocar o distanciamento dos
filhos do lar, tornando a casa deserta, transformando-a em apenas lugar de
descanso das actividades laborais e/ou escolares, onde não há espaço para
convívio familiar, fundamental para a consolidação da relação familiar.Parece-nos
fundamental que a qualidade da educação depende e muito, do tipo de cooperação
existente entre a escola e as famílias, mais concretamente, entre os
professores e os pais e encarregados de educação. Essa cooperação deve começar
o mais cedo possível, pois contactos realizados no início do ano lectivo, em
que se dão informações e orientações, podem repercutir-se positivamente na
motivação dos alunos, na sua assiduidade, na prevenção de problemas
disciplinares, etc. Essa cooperação é ainda importante, se considerarmos que os
pais detêm sobre os seus filhos, informações que naturalmente interessem aos
professores, assim como a escola tem informações importantes acerca dos alunos,
que interessam os pais, na sua actividade educativa.
Pesquisas recentes
realizadas no Brasil mostram que, de entre os principais factores que
influenciam o rendimento escolar dos alunos, o mais marcante é a participação
dos pais e encarregados de educação, na vida da Escola.
Os pais têm o dever de
acompanhar permanentemente os seus filhos, de serem exigentes com eles, de
lhes transmitirem valores soberanos da pessoa humana como: a ética, o
respeito por si e pelos outros, a solidariedade, a responsabilidade a
amizade.
O Papa Pio XI disse na encíclica acima referida, que
a obrigação do cuidado dos filhos, por parte dos pais continua, até que a
prole esteja em condições de cuidar de si…, pois que a natureza não tem em
vista somente a geração da prole, mas também o seu desenvolvimento e
progresso até ao perfeito estado de homem, enquanto homem, isto é, até ao estado
de virtude.
Como sabemos, a vinda de um filho provoca mudanças
profundas na vida do casal: Obriga-o a rever os hábitos, os compromissos e os
momentos de diversões. O recém-nascido não pede alguma coisa, mas pede tudo
aos progenitores. E se o casal for imaturo corre o risco de perder a própria
intimidade e podem também surgir contradições, rivalidades e desentendimentos
entre os cônjuges, a vários níveis. Este é o momento em que é necessário
acreditar na força do casal e confiar na graça de Deus.
A colaboração dos pais é decisiva sobretudo no aspecto emocional. O
carinho com que cuidam do filho, o interesse sincero que demonstram com seu
progresso escolar, o esforço que fazem para garantir boas condições de estudo
em casa, fazem com que se aumente a auto-estima da criança e ela se sinta
cada vez mais motivada em aprender e em levar a sério as tarefas escolares. “Ensina à criança o caminho que
ela deve seguir; mesmo quando envelhecer, dele não se há-de afastar”: Provérbios 22, 6.
Para Augusto Cury, nutrir
a personalidade dos filhos, ensiná-los a pensar, prepará-los para as derrotas
e dificuldades da vida e dialogar com eles, ajudam muito na educação para a
cidadania.
Dom Bosco conta-nos uma história antiga sobre o famoso artista Miguel
Ângelo, que um dia foi com os seus alunos às montanhas da Itália, para
escolher pedras a serem esculpidas no seu ateliê. Eis que ele viu um bloco de
pedra e disse aos alunos: “aí dentro há um anjo, vou coloca-lo para fora!”.
Levaram-no então para o ateliê e lá, com o seu trabalho, o anjo foi surgindo
na pedra. Os discípulos ficaram maravilhados com o que chamaram de “milagre”
do génio e lhe perguntaram como ele havia conseguido aquela proeza. Ele
respondeu: “O anjo já estava aí, apenas tiramos os excessos que estavam sobrando”.
Dom Bosco quis mostrar aos seus discípulos que educar é mesmo isso! É
ir com paciência e perícia, bondade e amor, fé e esperança, eliminando os
maus hábitos e descobrindo virtudes, até que o “anjo” apareça. Pois ele
considera que “há um anjo em cada filho, mas é preciso saber pô-lo para fora.
Não basta gerar os filhos; é preciso educa-los e bem”.
Mesmo que
hoje seja mais difícil educar os filhos, porque uma inundação de “falsos
valores” entra em nossas casas pela comunicação social e não só, com um
trabalho dedicado e atencioso, os pais podem realizar uma boa educação. Mas,
para isso, terão de conquistar os filhos, dedicando-lhes tempo, atenção,
carinho. Mas devem contar também com a providência divina. A oração em
família, o diálogo franco e aberto, a capacidade de escutar o que os filhos
têm a dizer… são aspectos que, de certeza, ajudam-nos na tarefa educativa.
Os filhos
precisam ter orgulho dos pais. Sem isso a educação poderá ficar comprometida.
Se o filho tiver mais amor ao mundo do que aos pais, então, ele ouvirá mais o
mundo do que a eles. E as propostas do mundo nem sempre conduzem os filhos
para o que é bom. E é desta forma que os pais “perdem” os seus filhos e estes
já não respeitam os pais.
Dom Bosco
considera que, por isso, os primeiros a serem educados são os pais, para
poderem educar os filhos. O pedagogo francês André Bergé dizia que “os
defeitos dos pais são pais dos defeitos dos filhos”
Dom Bosco,
considerado “Pai e mestre da juventude”, porque se dedicou aos jovens durante
toda a sua vida, deixou aos pais, algumas normas práticas e seguras para uma
educação integral, que passamos a citar:
1.
Valorize o seu filho. Quando respeitado e estimado, o jovem progride e
amadurece.
2. Acredite no seu filho. Mesmo os jovens mais
"difíceis" trazem bondade e generosidade no coração.
3. Ame e respeite o seu filho. Mostre-lhe que como seu pai, está
sempre ao lado dele.
4. Elogie seu filho sempre que puder. O elogio sincero aumenta a
auto-estima.
5. Compreenda o seu filho. No mundo
complicado, rude, competitivo e que muda constantemente, cabe aos pais, o
esforço para compreenderem seus filhos. Às vezes é preciso apenas um toque,
para que o filho em dificuldades, mude de rumo.
6.
Alegre-se com o seu filho. Tanto quanto nós, os jovens são atraídos por
um sorriso; a alegria e o bom humor atraem os meninos como mel.
7.
Aproxime-se de seu filho. Viva com o seu filho e
conheça seus amigos. Procure saber aonde ele vai e com que anda. Convide-o a
trazer seus amigos para a sua casa e participe amigavelmente de sua vida.
8. Seja
coerente com o seu filho. Não temos o direito de exigir de nosso filho
atitudes que não temos. Quem não respeita, não pode exigir respeito.
9.
Prevenir é melhor do que castigar o seu filho. O castigo magoa, a dor e o
rancor ficam e podem separar os pais e os filhos. Se tiver que castigar nunca
o faça com raiva.
10. Reze
com seu filho. A religião precisa ser alimentada. Quem ama e
respeita a Deus vai amar e respeitar o seu próximo. Quando se trata de
educação não se pode deixar de lado a religião. Fim de citação.
Se cada
educador católico, aplicar na sua vida diária, essas normas práticas, estará
contribuindo para formar cidadãos responsáveis e comprometidos com o futuro
do país e do mundo. Pois, Criança amada lida melhor com as dificuldades da
vida, na escola ou fora dela. E é capaz de “dizer a verdade e fazer o bem”,
como defendia o Padre Usera. E amar o filho é também: apoiá-lo
carinhosamente; não deixá-lo sentir-se abandonado; incentivá-lo para a
prática de boas acções; educá-lo para assumir a sua cidadania.
O acompanhamento e a relação
desenvolvida em família são indispensáveis para que o aluno se insira no
ambiente escolar sem grandes problemas. É dentro de casa, na socialização familiar,
que um filho adquire, aprende e absorve a disciplina para, no futuro, ter
saúde social. A educação e os costumes transmitidos pela família influenciam
a conduta e o comportamento dos filhos para toda a vida.
Espera-se
dos pais, uma maior aproximação na vida das escolas. Precisam conhecer os professores
dos seus filhos, participar das reuniões e palestras organizadas pela escola
e estarem informados sobre o comportamento dos seus filhos. Devem conhecer em
tempo próprio os resultados dos testes dos filhos, bem assim, os de cada
trimestre, a fim de não terem surpresas desagradáveis no fim do ano. Podem
até ser membros da associação de pais, da assembleia ou do conselho de
disciplina da escola e, como tal, participarem de alguma forma, na busca de
soluções para certos problemas da escola.
Se, não obstante todos os esforços
educativos dos pais, o seu desejo de ver os filhos crescer numa fé viva e
comprometida e de terem uma educação integral, resultar frustrado, nem por
isso deverão sentir-se falhados como pais. É-lhes pedido ser testemunhas, mas
não o ter êxito... O importante e necessário é caminhar interessadamente com
eles, no itinerário da iniciação à fé cristã e da educação integral.
V.
Os professores católicos e a educação integral
dos alunos
Os professores católicos
têm um papel muito especial na educação, pois amam a em Deus e pertencem a
uma Igreja que tem história nesta matéria, ao longo dos séculos. São Paulo
dirigindo-se aos romanos disse a seguinte frase: “ora nós sabemos que Deus concorre em
tudo para o bem daqueles que O amam, daqueles que, segundo o Seu desígnio,
são eleitos”. Romanos 8,28.
Os
professores têm responsabilidade partilhada com os pais, na criação de um
ambiente que facilite a aprendizagem e a socialização da criança. Uma
comunicação eficaz entre os professores e os pais possibilita a entrada dos
pais na escola e permite que os professores conheçam o ambiente socio -
cultural e económico de cada educando.
Dirigindo-se aos
educadores católicos na Catholic University of America em 2008, o Santo Padre
Bento XVI disse, que “a tarefa educativa é parte integrante da missão que a
Igreja tem, de proclamar a Boa Nova. Antes de mais e sobretudo cada
instituição educativa católica é um lugar onde se encontra o Deus vivo, no
qual em Jesus Cristo revela a força transformadora do seu amor e da sua
verdade. Esta relação suscita o desejo de crescer no conhecimento e na
compreensão de Cristo e do seu ensinamento. Deste modo quantos o encontram
são levados pelo poder do Evangelho, a levar uma vida caracterizada por
quanto é belo, bom e verdadeiro; uma vida de testemunho cristão alimentada e
fortalecida dentro da comunidade dos discípulos de nosso Senhor, a Igreja”.
Para Bento XVI, citamos, “a dinâmica entre encontro
pessoal, conhecimento e testemunho cristão é parte integrante da diaconia da verdade que a
Igreja exerce no meio da humanidade. A revelação de Deus oferece a cada
geração, a possibilidade de descobrir a verdade última sobre a própria vida e
sobre o fim da história. Esta tarefa nunca é fácil: envolve toda a comunidade
cristã e motiva cada geração de educadores cristãos a garantir que o poder da
verdade de Deus permeie todas as dimensões das instituições que eles servem.
Desta forma, a Boa Nova de Cristo é posta em condições de agir, guiando quer
o professor quer o estudante para uma verdade objectiva que, transcendendo o
particular e o subjectivo, remete para o universal e o absoluto que nos
habilita a proclamar com confiança, a esperança que não desilude (cf. Rm 5, 5)”. Fim de citação.
O educador Católico deve, como defendia o Pe Usera,
fazer da pessoa do aluno, o centro
do processo educativo e da afectividade, o seu principal
instrumento. "Educar no, por e para o amor", sintetiza
bem o seu credo pedagógico. "Educar no amor porque só numa atmosfera de
carinho, confiança e respeito mútuos, poderá haver sinceridade na relação
educativa e os educandos terão confiança nos educadores. Educar por amor
porque só o educador que ama a sua tarefa e a ela se dedica com generosidade,
sem exigir reciprocidade, sem esperar correspondência, poderá contribuir, com
a sua presença alegre e dinâmica, para um clima afectivo em todo o ambiente
escolar. Educar para o amor porque só no amor a pessoa humana se realiza: no
amor a si próprio (dimensão pessoal), no amor aos outros (dimensão social) e
no amor a Deus (dimensão religiosa). Por outras palavras: o amor é um meio
de educação (no), a condição para a educação (por), e o objectivo da educação (para)".
Por maior
que seja a competência técnico-pedagógica do professor, se ele realiza a sua
actividade sem amor, os resultados da aprendizagem não serão os melhores.
Pois como está escrito em Coríntios 13,1, “ainda que eu falasse a língua dos
homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria”. É preciso muito
amor nesta tarefa tão nobre, que é o professorado.Dom Bosco defendia que no processo educativo devem ocupar lugar
central, a doçura, o carinho, a afectividade, o companheirismo, a bondade, a
alegria e a exemplaridade.
Pois como sabemos, avaliar um aluno não é só transformar sua aprendizagem
em números ou conceitos. É sobretudo, tratá-lo antes de mais, como pessoa,
como ser humano em crescimento e em formação, que precisa de incentivo, de
afecto, de carinho, de respeito, de liberdades de pensamento e de expressão.
Paulo Freire defendia uma
“pedagogia da autonomia” (título da sua última obra publicada em vida) em que
a tónica residia fundamentalmente em “matar nos educandos a curiosidade, o
espírito investigador e a criatividade".
Trata-se de uma educação que
visava a promoção da prática da liberdade. Ele considera que o educador deve
criar oportunidades para a construção de saberes, representando um processo
de formação, no qual o educando se torna sujeito do seu próprio conhecimento.
Desta forma, formará alunos autónomos de seus conhecimentos e disciplinados
metodologicamente.
Para isso, propunha práticas
pedagógicas necessárias à construção da autonomia dos educandos, em que se
valoriza a sua cultura e sua experiência de vida. Pois formar é muito mais
que formar o ser humano em suas destrezas, atentando para a necessidade de
formação ética dos formadores, conscientizando-os sobre a importância de
estimular os educandos a uma reflexão crítica da realidade em que estão
inseridos. Defende ainda o ideal no qual o individuo deve se comportar como
ser histórico e activo de suas opiniões e atitudes. É preciso conscientizar
os educandos, com vista à formação de uma nova consciência crítica para
enfrentar barreiras em sua trajectória e em seu autoconhecimento.
Bento XVI diz-nos que “é só na fé que a verdade se
pode encarnar e a razão tornar-se verdadeiramente humana, capaz de orientar a
vontade pelo caminho da liberdade (cf.Spe salvi, 23).
Que deste modo, os educadores católicos devem oferecer uma contribuição vital
para a missão da Igreja e devem servir eficazmente a sociedade”.
O Papa Pio XI considera que as boas escolas são fruto, não
tanto dos bons regulamentos, como principalmente dos bons mestres que,
preparados e instruídos, cada qual na disciplina que deve ensinar, e
adornados das qualidades intelectuais e morais exigidas pelo seu
importantíssimo ofício, se abrasam dum amor puro e divino para com os jovens
que lhes foram confiados, precisamente porque amam Jesus Cristo e a sua
Igreja, de quem eles são filhos predilectos, e por isso mesmo, têm
verdadeiramente a peito, o bem das famílias e da sua Pátria.
Pio XI
valoriza ainda os bons mestres que, unidos em congregação e associações, como
é o caso da APC – CV, trabalham desinteressadamente, com zelo e constância,
na formação da juventude”.
Ainda a
propósito da educação na verdade, o Papa João Paulo II disse que uma universidade, e especialmente uma
universidade católica, «deve ser uma unidade viva de organismos voltados para
a investigação da verdade... É necessário, portanto, promover tal síntese
superior do saber, a única que poderá apagar aquela sede de verdade,
profundamente inscrita no coração do homem. Disse que a missão dos educadores
católicos, como académicos e cientistas, vivida à luz da fé cristã, constitui
um estímulo contínuo, à procura da verdade e da sabedoria que vem do alto. “Feliz o homem que encontrou a
sabedoria, o homem que alcançou o entendimento! Provérbios 3,13.
Ele lembra aos educadores católicos que é uma honra
e uma responsabilidade consagrar-se sem reservas à causa da verdade. E que isto é a
melhor maneira de servir ao mesmo tempo a dignidade do homem e a causa da
Igreja, a qual tem «a íntima convicção de que a verdade é a sua verdadeira
aliada, sendo o conhecimento e a razão, ministros fiéis da fé». Chamou a
atenção da necessidade urgente dessa forma de serviço abnegado que é proclamar o sentido da verdade,
valor fundamental sem o qual se extinguem a liberdade, a justiça e a
dignidade do homem.
Paulo Freire enfatiza também
alguns aspectos primordiais, porém nem sempre adoptados pela sociedade actual, e que pensamos deva ser, a atitude do
educador católico, como: simplicidade, humanismo, ética e esperança, já que, na sua visão, o capitalismo leva a sociedade a um consumismo exacerbado e a uma alienação colectiva.
Aos
professores católicos pede-se que assumam as qualidades que o Venerável Pe
Jerónimo Usera pedira às religiosas do Amor de Deus: ter como “lema” sacrificar-se pelo
Santo Amor de Deus; serem generosas e nobres de coração, imitando o Divino
Mestre que perdoou aos seus inimigos; terem muito espírito de obediência,
muita humildade e muitíssima caridade; serem virtuosas e entendidas, pois o
Amor de Deus faz Sábios e Santos; procurarem em tudo a maior honra e glória
de Deus; distribuírem o tempo entre a oração, o ensino e o estudo,
conservando sempre a presença de Deus e vivendo felizes e contentes.
Sendo a escola de hoje uma instituição da
comunidade, ela deve ter as portas
abertas e os professores sempre disponíveis para atender e ouvir os pais e
encarregados de educação, pois o contrário gera distanciamento. Conhecemos a
experiência de uma escola em que, nos primeiros dias de aulas, os pais são
apresentados para a escola: percorrem seu espaço, conhecem as salas de aulas
de seus filhos, a cantina, a sala dos professores, a biblioteca e todos os
docentes se apresentam. No dia seguinte o aluno leva fotos da sua casa, da
sua história de vida e da sua família. Isto cria vínculos e tem um grande
impacto na confiança que a família e a escola estabelecem entre si.
O poder público tem também a sua quota-parte de
responsabilidade, no sentido de providenciar para que todos os cidadãos
tenham acesso a uma boa educação escolar e sejam preparados para exercer
devidamente os deveres e os direitos civis. Devem ainda velar pela
competência do corpo docente e pela sua permanente formação contínua, visando
sempre uma melhor formação possível dos alunos.
Em Cabo Verde, a participação de todas
as entidades ligadas à educação, já referidas, está consagrada na Lei. As
escolas devem acreditar no potencial das famílias, respeitar as suas opiniões
e levar em consideração os seus sentimentos e emoções. As escolas começam a
valorizar a interdependência, a reciprocidade e a tomada de certas decisões
em conjunto.
A Lei de Bases do sistema educativo
cabo-verdiano – Decreto Legislativo nº 2/2010 de 7 de Maio, no seu artigo 4º
(direitos e deveres no âmbito da educação) que apresenta-nos os direitos e os
deveres das famílias, das autarquias locais e do Estado, em matéria de
educação.
VI.
Os Catequistas e a educação integral
Queríamos também deixar uma mensagem
aos catequistas, aqueles que colaboram com os pais e, em missão da Santa
Igreja, ensinam a fé e a religião aos nossos filhos.
Dirigindo-se aos catequistas,
religiosos e religiosas, o Papa Bento XVI disse-lhes que “a educação
religiosa é um apostolado estimulante e existem muitos sinais de um desejo
entre os jovens, de conhecer melhor a fé e de a praticar com determinação”.
Para o Papa Francisco, o coração do catequista vive
sempre este movimento de «sístole-diástole», isto é, em união com Jesus, o
catequista sai ao encontro dos outros. Ele está consciente de que recebeu o
dom da fé e dela faz dom aos outros, sem reservar nenhuma percentagem para
si! Tudo aquilo que recebe, dá-o. Não se trata de um negócio mas puro dom:
dom recebido e dom transmitido. É um dom que gera missão, que impele sempre
para além de si mesmo. São Paulo dizia: «O amor de Cristo nos impele»; isto
é, «nos possui». É assim o amor: atrai-te e envia-te, toma-te e dá-te aos
outros – disse o Papa.
O Papa pede aos catequistas para não terem medo,
mesmo quando têm que andar longas distâncias ou atravessarem situações
difíceis na sua missão, pois têm Deus na sua companhia. “Deus sempre nos precede”,
disse. Quando pensamos que temos de ir para longe, para uma periferia
extrema, talvez nos assalte um pouco de medo; mas na realidade Jesus está lá.
Ele espera-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida
oprimida, na sua alma sem fé. Segundo o Papa, uma das periferias que lhe faz
tão mal, “é a das crianças que não sabem fazer o Sinal da Cruz”.
Aos catequistas apelamos a serem
testemunhos do amor de Deus na sociedade e que continuem a fazer fortalecer
na fé, os nossos filhos, com vista a uma educação integral dos mesmos.
VII.
Considerações Conclusivas
A nossa
intenção, durante toda a explanação, foi lançar pistas para o debate sobre as
responsabilidades de cada um dos intervenientes no processo educativo, e que
meios utilizar a fim de conseguirmos ter uma educação integral para os nossos
filhos e/ou educandos. São pistas que esperamos venham enriquecer-se com a
contribuição de cada educador presente nesta sala, durante o debate a seguir.
Queríamos,
antes de terminar, deixar um apelo a todos, no sentido de continuarmos a ser
aquele educador que ama a sua tarefa, ama o seu educando e a ele se dedica
com altruísmo.
Bem-haja
a APC-CV e todos os educadores de Cabo Verde.
Muito
Obrigado pela atenção.
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