quarta-feira, 11 de junho de 2014

A Educação Integral na visão dos educadores católicos



Tema apresentado pelo casal Dr.ª Ângela Tavares e Dr. José Maria Tavares no IIº Fórum da APC, em 16 de fevereiro de 2014
Tema: A EDUCAÇÃO INTEGRAL NA VISÃO DOS EDUCADORES
CATÓLICOS

I.                  Agradecimento

É com muita alegria que recebemos o convite da Associação dos Professores Católicos de Cabo Verde, através da Senhora presidente, Professora Fátima Sanches, para partilharmos convosco, o que entendemos deva ser, a visão dos educadores católicos em relação à educação integral.

Agradecemos o convite.

Começamos por felicitar-vos por mais este aniversário, o vigésimo e, nestes 20 anos, muitas coisas boas foram feitas e de certeza visavam também, a educação integral dos alunos.

II.               Nota Introdutória

O lema deste fórum - a Escola e a Família, uma aliança necessária – tem toda a razão de ser no mundo de hoje, pois é sobejamente sabido, que só com uma aliança muito forte entre estas duas instituições educativas, é possível uma educação integral para os nossos filhos e/ou educandos.
A educação é uma tarefa fundamental da sociedade. Dela dependem, decisivamente, o desenvolvimento harmonioso e integral das crianças, dos adolescentes e dos jovens, e a qualidade do progresso da sociedade.
Para o Padre Jerónimo Usera, fundador da Congregação do Amor de Deus, “a educação é o desenvolvimento de todas as faculdades do educando. A promoção harmónica, progressiva da pessoa, na linha do humanismo cristão, constitui assim o objectivo do processo educativo”. A educação é para ele, “a melhor arma que se pode dar a um ser humano, para que ele se desenvolva de forma plena”. 
São Tomás de Aquino considera que “é pela educação que o homem pode alcançar a sabedoria, que, nessa medida, está intimamente ligada à responsabilidade e à liberdade”. 
Dom Bosco, fundador dos Salesianos, disse que “Educar o filho é uma bela missão pela qual vale a pena gastar o tempo, o dinheiro e a vida; afinal, continua Dom Bosco, estamos diante da maior preciosidade da vida: nossos filhos. Tudo será pouco em vista da educação deles.

III.           Educação Integral

Vamos realçar alguns aspectos que consideramos pertinentes, sobre o conceito da educação integral”.
Educação integral, na sua concepção teórica, prevê a formação do ser humano em todas as suas dimensões, isto é, a oferta de oportunidades de acesso às várias instâncias culturais da sociedade, e a visão do ser humano como um ser composto por diversas camadas interrelacionadas que têm a ver não apenas com a cognição, mas também com a emoção, a subjectividade, os desejos, a inteligibilidade e a sociabilidade. É ainda importante ter em conta, um papel crítico-emancipatório para a educação, estimulando a gradativa autonomia dos educandos em sua formação, como cidadãos.
Para haver uma educação integral, o educando deve ser formado não só do ponto de vista intelectual, mas também do ponto de vista, afectivo, social, espiritual e físico. Para isso, é preciso que haja uma integração de tempos e espaços, com a inclusão de diversos actores no processo educativo. Assim sendo, a educação não deve limitar-se ao espaço escolar, nem se apoiar exclusivamente no professor, mas é aquela em que os cidadãos se envolvem e compartilham saberes, dentro ou fora da escola. Para o efeito, precisa-se hoje de professores comunitários, que conheçam profundamente a comunidade onde a escola se encontra inserida, e conta-se também com o engajamento de famílias, do Estado, das Igrejas e da sociedade civil.
O pedagogo Paulo Freire critica a sociedade brasileira da sua época, considerando que o fracasso educacional deve-se, em particular, a técnicas de ensino ultrapassadas e sem conexão com o contexto socio-económico do aluno. Ele considera ainda que, dentro da sociedade, os valores morais e éticos estão cada vez mais perdendo seu respeito e que com a globalização, a ética está agindo a favor dos interesses da economia e do lucro que dela é gerado, não favorecendo os interesses humanos de convívio, respeito e justiça.São Tomás de Aquino destaca a moral como dimensão fundamental no aperfeiçoamento do ser humano que, assim, deve consistir no fim último da educação: “a moral é o ser do homem, doutrina sobre o que o homem é e está chamado a ser”.
Fazem parte da educação integral, enquanto projecto educativo, para além daquilo que constitui o curriculum específico de cada disciplina, várias actividades que têm a ver com o meio ambiente, o desporto e o lazer, os direitos humanos e a cidadania, as artes e a cultura, a saúde, a educação económica, religiosa e espiritual. E isto permite ao aluno aprender a “ler o mundo para poder transformá-lo”, como defendia Paulo Freire, mentor da educação para a consciência.O Papa Pio XI disse, numa encíclica sobre a educação em 1929 que “Deus dividiu entre dois poderes o governo (isto é, a educação) do género humano: o eclesiástico e o civil, um para prover às coisas divinas e outro às humanas: ambos supremos, cada um na sua esfera; ambos têm confins determinados… Mas como a estes dois poderes estão sujeitos os mesmos súbditos, podendo dar-se que a mesma matéria, embora sob aspectos diversos pertença à competência e juízo de cada um deles, Deus providentíssimo, de Quem ambos dimanam, deve ter marcado a cada um, os seus caminhos. Para ajudar os educadores e os cidadãos a entenderem o que é educação integral, fez-se uma compilação de dez pressupostos que envolvem o conceito, que passamos a apresentar.
1.     O direito a uma educação de qualidade é a peça chave para a ampliação e a garantia dos demais direitos humanos e sociais.
2.     O objectivo final da educação integral é a promoção do desenvolvimento integral dos alunos, versando os aspectos intelectual, afectivo, social, físico e espiritual.
3.     A educação não se esgota no espaço físico da escola nem no período de tempo em que o aluno fica na escola. 
4.     A educação deve promover articulações e convivências entre educadores, comunidade e famílias, programas e serviços públicos, governos, ONGs  e Igrejas , dentro e fora da escola. 
5.     A escola faz parte de uma rede que possibilita a compreensão da sociedade, a construção de juízos de valor e do desenvolvimento integral do ser humano. 
6.     Organizações e instituições da sociedade precisam assumir que são também espaços educadores e podem agir como agentes educativos. Já a escola precisa entender de que não é o único espaço educativo.
7.     O projecto politico-pedagógico deve ser elaborado por toda a comunidade escolar, reflectindo a importância e a complementaridade dos saberes académicos e comunitários. 
8.     Ficar mais tempo na escola não é necessariamente sinónimo de educação integral; passar mais tempo em aprendizagens significativas, sim. 
9.     A escola funciona como um catalisador entre os espaços educativos e seu entorno e serve como local onde os demais espaços podem ser ressignificados e os demais projectos, articulados.
10.                        Além de demandar a articulação de agentes, tempos e espaços, a educação integral deve apoiar-se na articulação de políticas  (cultura, desporto, assistência social, meio ambiente, religião, saúde e outras) e programas.

IV.           A Família e a Educação integral dos filhos
 Vamos de seguida, mostrar o papel das famílias, na educação integral dos filhos.

 “Porque deram a vida ao filho, contraem os pais o dever gravíssimo de educar a prole” – Papa Paulo VI.
 “Em primeiro lugar, com a missão educativa da Igreja, concorda admiravelmente a missão educativa da família, porque de Deus procedem ambas, de maneira muito semelhante. À família, de facto, na ordem natural, Deus comunica imediatamente a fecundidade, que é princípio de vida, e por isso princípio de educação para a vida, simultaneamente com a autoridade que é princípio de ordem” (Carta Encíclica do Papa Pio XI).Considera o mesmo Papa que “o primeiro ambiente natural e necessário da educação é a família, precisamente a isto destinado pelo Criador. De modo que, em geral, a educação mais eficaz e duradoira é aquela que se recebe numa família cristã bem ordenada e disciplinada, tanto mais eficaz quanto mais clara, sobretudo quando conta com o bom exemplo dos pais”.O Papa Paulo VI disse na sua Encíclica Humanae Vitae (1968) que "O matrimónio e o amor conjugal estão por si mesmos ordenados para a procriação e educação dos filhos. Sem dúvida, os filhos são o dom mais excelente do matrimónio e contribuem grandemente para o bem dos pais".
Sendo assim, continua o mesmo Papa, “o amor conjugal requer nos esposos uma consciência da sua missão de "paternidade responsável", sobre a qual hoje tanto se insiste, e justificadamente, e que deve também ser compreendida com exactidão. De facto, ela deve ser considerada sob diversos aspectos legítimos e ligados entre si”.
Nos nossos tempos, devido a assumpção por parte das mulheres de mais responsabilidades no mundo laboral e o trabalho exagerado de muitos pais, têm surgido novas formas de relacionamento conjugal e familiar, com reflexo na educação dos filhos e, consequentemente, no seu desempenho escolar. Aliás, muitos ainda pensam que educação é tarefa da escola. Esta situação pode provocar o distanciamento dos filhos do lar, tornando a casa deserta, transformando-a em apenas lugar de descanso das actividades laborais e/ou escolares, onde não há espaço para convívio familiar, fundamental para a consolidação da relação familiar.Parece-nos fundamental que a qualidade da educação depende e muito, do tipo de cooperação existente entre a escola e as famílias, mais concretamente, entre os professores e os pais e encarregados de educação. Essa cooperação deve começar o mais cedo possível, pois contactos realizados no início do ano lectivo, em que se dão informações e orientações, podem repercutir-se positivamente na motivação dos alunos, na sua assiduidade, na prevenção de problemas disciplinares, etc. Essa cooperação é ainda importante, se considerarmos que os pais detêm sobre os seus filhos, informações que naturalmente interessem aos professores, assim como a escola tem informações importantes acerca dos alunos, que interessam os pais, na sua actividade educativa. 
Pesquisas recentes realizadas no Brasil mostram que, de entre os principais factores que influenciam o rendimento escolar dos alunos, o mais marcante é a participação dos pais e encarregados de educação, na vida da Escola.
Os pais têm o dever de acompanhar permanentemente os seus filhos, de serem exigentes com eles, de lhes transmitirem valores soberanos da pessoa humana como: a ética, o respeito por si e pelos outros, a solidariedade, a responsabilidade a amizade.
O Papa Pio XI disse na encíclica acima referida, que a obrigação do cuidado dos filhos, por parte dos pais continua, até que a prole esteja em condições de cuidar de si…, pois que a natureza não tem em vista somente a geração da prole, mas também o seu desenvolvimento e progresso até ao perfeito estado de homem, enquanto homem, isto é, até ao estado de virtude.
Como sabemos, a vinda de um filho provoca mudanças profundas na vida do casal: Obriga-o a rever os hábitos, os compromissos e os momentos de diversões. O recém-nascido não pede alguma coisa, mas pede tudo aos progenitores. E se o casal for imaturo corre o risco de perder a própria intimidade e podem também surgir contradições, rivalidades e desentendimentos entre os cônjuges, a vários níveis. Este é o momento em que é necessário acreditar na força do casal e confiar na graça de Deus. 
A colaboração dos pais é decisiva sobretudo no aspecto emocional. O carinho com que cuidam do filho, o interesse sincero que demonstram com seu progresso escolar, o esforço que fazem para garantir boas condições de estudo em casa, fazem com que se aumente a auto-estima da criança e ela se sinta cada vez mais motivada em aprender e em levar a sério as tarefas escolares. “Ensina à criança o caminho que ela deve seguir; mesmo quando envelhecer, dele não se há-de afastar”: Provérbios 22, 6.
Para Augusto Cury, nutrir a personalidade dos filhos, ensiná-los a pensar, prepará-los para as derrotas e dificuldades da vida e dialogar com eles, ajudam muito na educação para a cidadania.
Dom Bosco conta-nos uma história antiga sobre o famoso artista Miguel Ângelo, que um dia foi com os seus alunos às montanhas da Itália, para escolher pedras a serem esculpidas no seu ateliê. Eis que ele viu um bloco de pedra e disse aos alunos: “aí dentro há um anjo, vou coloca-lo para fora!”. Levaram-no então para o ateliê e lá, com o seu trabalho, o anjo foi surgindo na pedra. Os discípulos ficaram maravilhados com o que chamaram de “milagre” do génio e lhe perguntaram como ele havia conseguido aquela proeza. Ele respondeu: “O anjo já estava aí, apenas tiramos os excessos que estavam sobrando”.
Dom Bosco quis mostrar aos seus discípulos que educar é mesmo isso! É ir com paciência e perícia, bondade e amor, fé e esperança, eliminando os maus hábitos e descobrindo virtudes, até que o “anjo” apareça. Pois ele considera que “há um anjo em cada filho, mas é preciso saber pô-lo para fora. Não basta gerar os filhos; é preciso educa-los e bem”.
 Mesmo que hoje seja mais difícil educar os filhos, porque uma inundação de “falsos valores” entra em nossas casas pela comunicação social e não só, com um trabalho dedicado e atencioso, os pais podem realizar uma boa educação. Mas, para isso, terão de conquistar os filhos, dedicando-lhes tempo, atenção, carinho. Mas devem contar também com a providência divina. A oração em família, o diálogo franco e aberto, a capacidade de escutar o que os filhos têm a dizer… são aspectos que, de certeza, ajudam-nos na tarefa educativa. 
Os filhos precisam ter orgulho dos pais. Sem isso a educação poderá ficar comprometida. Se o filho tiver mais amor ao mundo do que aos pais, então, ele ouvirá mais o mundo do que a eles. E as propostas do mundo nem sempre conduzem os filhos para o que é bom. E é desta forma que os pais “perdem” os seus filhos e estes já não respeitam os pais.
Dom Bosco considera que, por isso, os primeiros a serem educados são os pais, para poderem educar os filhos. O pedagogo francês André Bergé dizia que “os defeitos dos pais são pais dos defeitos dos filhos”
Dom Bosco, considerado “Pai e mestre da juventude”, porque se dedicou aos jovens durante toda a sua vida, deixou aos pais, algumas normas práticas e seguras para uma educação integral, que passamos a citar:
1. Valorize o seu filho. Quando respeitado e estimado, o jovem progride e amadurece.
2Acredite no seu filho. Mesmo os jovens mais "difíceis" trazem bondade e generosidade no coração.
3. Ame e respeite o seu filho. Mostre-lhe que como seu pai, está sempre ao lado dele.
4. Elogie seu filho sempre que puder. O elogio sincero aumenta a auto-estima.
5. Compreenda o seu filho. No mundo complicado, rude, competitivo e que muda constantemente, cabe aos pais, o esforço para compreenderem seus filhos. Às vezes é preciso apenas um toque, para que o filho em dificuldades, mude de rumo.
 6. Alegre-se com o seu filho. Tanto quanto nós, os jovens são atraídos por um sorriso; a alegria e o bom humor atraem os meninos como mel.
7. Aproxime-se de seu filho. Viva com o seu filho e conheça seus amigos. Procure saber aonde ele vai e com que anda. Convide-o a trazer seus amigos para a sua casa e participe amigavelmente de sua vida.
 8. Seja coerente com o seu filho. Não temos o direito de exigir de nosso filho atitudes que não temos. Quem não respeita, não pode exigir respeito.
9. Prevenir é melhor do que castigar o seu filho. O castigo magoa, a dor e o rancor ficam e podem separar os pais e os filhos. Se tiver que castigar nunca o faça com raiva.
10. Reze com seu filho. A religião precisa ser alimentada. Quem ama e respeita a Deus vai amar e respeitar o seu próximo. Quando se trata de educação não se pode deixar de lado a religião.  Fim de citação.

Se cada educador católico, aplicar na sua vida diária, essas normas práticas, estará contribuindo para formar cidadãos responsáveis e comprometidos com o futuro do país e do mundo. Pois, Criança amada lida melhor com as dificuldades da vida, na escola ou fora dela. E é capaz de “dizer a verdade e fazer o bem”, como defendia o Padre Usera. E amar o filho é também: apoiá-lo carinhosamente; não deixá-lo sentir-se abandonado; incentivá-lo para a prática de boas acções; educá-lo para assumir a sua cidadania.  
 O acompanhamento e a relação desenvolvida em família são indispensáveis para que o aluno se insira no ambiente escolar sem grandes problemas. É dentro de casa, na socialização familiar, que um filho adquire, aprende e absorve a disciplina para, no futuro, ter saúde social. A educação e os costumes transmitidos pela família influenciam a conduta e o comportamento dos filhos para toda a vida.
Espera-se dos pais, uma maior aproximação na vida das escolas. Precisam conhecer os professores dos seus filhos, participar das reuniões e palestras organizadas pela escola e estarem informados sobre o comportamento dos seus filhos. Devem conhecer em tempo próprio os resultados dos testes dos filhos, bem assim, os de cada trimestre, a fim de não terem surpresas desagradáveis no fim do ano. Podem até ser membros da associação de pais, da assembleia ou do conselho de disciplina da escola e, como tal, participarem de alguma forma, na busca de soluções para certos problemas da escola.
 Se, não obstante todos os esforços educativos dos pais, o seu desejo de ver os filhos crescer numa fé viva e comprometida e de terem uma educação integral, resultar frustrado, nem por isso deverão sentir-se falhados como pais. É-lhes pedido ser testemunhas, mas não o ter êxito... O importante e necessário é caminhar interessadamente com eles, no itinerário da iniciação à fé cristã e da educação integral.
V.               Os professores católicos e a educação integral dos alunos

Os professores católicos têm um papel muito especial na educação, pois amam a em Deus e pertencem a uma Igreja que tem história nesta matéria, ao longo dos séculos. São Paulo dirigindo-se aos romanos disse a seguinte frase: “ora nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, daqueles que, segundo o Seu desígnio, são eleitos”. Romanos 8,28.
Os professores têm responsabilidade partilhada com os pais, na criação de um ambiente que facilite a aprendizagem e a socialização da criança. Uma comunicação eficaz entre os professores e os pais possibilita a entrada dos pais na escola e permite que os professores conheçam o ambiente socio - cultural e económico de cada educando.
Dirigindo-se aos educadores católicos na Catholic University of America em 2008, o Santo Padre Bento XVI disse, que “a tarefa educativa é parte integrante da missão que a Igreja tem, de proclamar a Boa Nova. Antes de mais e sobretudo cada instituição educativa católica é um lugar onde se encontra o Deus vivo, no qual em Jesus Cristo revela a força transformadora do seu amor e da sua verdade. Esta relação suscita o desejo de crescer no conhecimento e na compreensão de Cristo e do seu ensinamento. Deste modo quantos o encontram são levados pelo poder do Evangelho, a levar uma vida caracterizada por quanto é belo, bom e verdadeiro; uma vida de testemunho cristão alimentada e fortalecida dentro da comunidade dos discípulos de nosso Senhor, a Igreja”.
 Para Bento XVI, citamos, “a dinâmica entre encontro pessoal, conhecimento e testemunho cristão é parte integrante da diaconia da verdade que a Igreja exerce no meio da humanidade. A revelação de Deus oferece a cada geração, a possibilidade de descobrir a verdade última sobre a própria vida e sobre o fim da história. Esta tarefa nunca é fácil: envolve toda a comunidade cristã e motiva cada geração de educadores cristãos a garantir que o poder da verdade de Deus permeie todas as dimensões das instituições que eles servem. Desta forma, a Boa Nova de Cristo é posta em condições de agir, guiando quer o professor quer o estudante para uma verdade objectiva que, transcendendo o particular e o subjectivo, remete para o universal e o absoluto que nos habilita a proclamar com confiança, a esperança que não desilude (cf. Rm 5, 5)”. Fim de citação.
O educador Católico deve, como defendia o Pe Usera, fazer da pessoa do aluno, o centro do processo educativo e da afectividade, o seu principal instrumento. "Educar no, por e para o amor", sintetiza bem o seu credo pedagógico. "Educar no amor porque só numa atmosfera de carinho, confiança e respeito mútuos, poderá haver sinceridade na relação educativa e os educandos terão confiança nos educadores. Educar por amor porque só o educador que ama a sua tarefa e a ela se dedica com generosidade, sem exigir reciprocidade, sem esperar correspondência, poderá contribuir, com a sua presença alegre e dinâmica, para um clima afectivo em todo o ambiente escolar. Educar para o amor porque só no amor a pessoa humana se realiza: no amor a si próprio (dimensão pessoal), no amor aos outros (dimensão social) e no amor a Deus (dimensão religiosa). Por outras palavras: o amor é um meio de educação (no), a condição para a educação (por), e  o objectivo da educação (para)".
Por maior que seja a competência técnico-pedagógica do professor, se ele realiza a sua actividade sem amor, os resultados da aprendizagem não serão os melhores. Pois como está escrito em Coríntios 13,1, “ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria”. É preciso muito amor nesta tarefa tão nobre, que é o professorado.Dom Bosco defendia que no processo educativo devem ocupar lugar central, a doçura, o carinho, a afectividade, o companheirismo, a bondade, a alegria e a exemplaridade.
Pois como sabemos, avaliar um aluno não é só transformar sua aprendizagem em números ou conceitos. É sobretudo, tratá-lo antes de mais, como pessoa, como ser humano em crescimento e em formação, que precisa de incentivo, de afecto, de carinho, de respeito, de liberdades de pensamento e de expressão.
Paulo Freire defendia uma “pedagogia da autonomia” (título da sua última obra publicada em vida) em que a tónica residia fundamentalmente em “matar nos educandos a curiosidade, o espírito investigador e a criatividade".
Trata-se de uma educação que visava a promoção da prática da liberdade. Ele considera que o educador deve criar oportunidades para a construção de saberes, representando um processo de formação, no qual o educando se torna sujeito do seu próprio conhecimento. Desta forma, formará alunos autónomos de seus conhecimentos e disciplinados metodologicamente.
Para isso, propunha práticas pedagógicas necessárias à construção da autonomia dos educandos, em que se valoriza a sua cultura e sua experiência de vida. Pois formar é muito mais que formar o ser humano em suas destrezas, atentando para a necessidade de formação ética dos formadores, conscientizando-os sobre a importância de estimular os educandos a uma reflexão crítica da realidade em que estão inseridos. Defende ainda o ideal no qual o individuo deve se comportar como ser histórico e activo de suas opiniões e atitudes. É preciso conscientizar os educandos, com vista à formação de uma nova consciência crítica para enfrentar barreiras em sua trajectória e em seu autoconhecimento.
Bento XVI diz-nos que “é só na fé que a verdade se pode encarnar e a razão tornar-se verdadeiramente humana, capaz de orientar a vontade pelo caminho da liberdade (cf.Spe salvi, 23). Que deste modo, os educadores católicos devem oferecer uma contribuição vital para a missão da Igreja e devem servir eficazmente a sociedade”.
O Papa Pio XI considera que as boas escolas são fruto, não tanto dos bons regulamentos, como principalmente dos bons mestres que, preparados e instruídos, cada qual na disciplina que deve ensinar, e adornados das qualidades intelectuais e morais exigidas pelo seu importantíssimo ofício, se abrasam dum amor puro e divino para com os jovens que lhes foram confiados, precisamente porque amam Jesus Cristo e a sua Igreja, de quem eles são filhos predilectos, e por isso mesmo, têm verdadeiramente a peito, o bem das famílias e da sua Pátria.
Pio XI valoriza ainda os bons mestres que, unidos em congregação e associações, como é o caso da APC – CV, trabalham desinteressadamente, com zelo e constância, na formação da juventude”.
Ainda a propósito da educação na verdade, o Papa João Paulo II disse que uma universidade, e especialmente uma universidade católica, «deve ser uma unidade viva de organismos voltados para a investigação da verdade... É necessário, portanto, promover tal síntese superior do saber, a única que poderá apagar aquela sede de verdade, profundamente inscrita no coração do homem. Disse que a missão dos educadores católicos, como académicos e cientistas, vivida à luz da fé cristã, constitui um estímulo contínuo, à procura da verdade e da sabedoria que vem do alto. “Feliz o homem que encontrou a sabedoria, o homem que alcançou o entendimento! Provérbios 3,13.
Ele lembra aos educadores católicos que é uma honra e uma responsabilidade consagrar-se sem reservas à causa da verdade. E que isto é a melhor maneira de servir ao mesmo tempo a dignidade do homem e a causa da Igreja, a qual tem «a íntima convicção de que a verdade é a sua verdadeira aliada, sendo o conhecimento e a razão, ministros fiéis da fé». Chamou a atenção da necessidade urgente dessa forma de serviço abnegado que é proclamar o sentido da verdade, valor fundamental sem o qual se extinguem a liberdade, a justiça e a dignidade do homem.
Paulo Freire enfatiza também alguns aspectos primordiais, porém nem sempre adoptados pela sociedade actual, e que pensamos deva ser, a atitude do educador católico, como: simplicidadehumanismoética e esperança, já que, na sua visão, o capitalismo leva a sociedade a um consumismo exacerbado e a uma alienação colectiva.
Aos professores católicos pede-se que assumam as qualidades que o Venerável Pe Jerónimo Usera pedira às religiosas do Amor de Deus: ter como “lema” sacrificar-se pelo Santo Amor de Deus; serem generosas e nobres de coração, imitando o Divino Mestre que perdoou aos seus inimigos; terem muito espírito de obediência, muita humildade e muitíssima caridade; serem virtuosas e entendidas, pois o Amor de Deus faz Sábios e Santos; procurarem em tudo a maior honra e glória de Deus; distribuírem o tempo entre a oração, o ensino e o estudo, conservando sempre a presença de Deus e vivendo felizes e contentes.
Sendo a escola de hoje uma instituição da comunidade, ela deve ter as portas abertas e os professores sempre disponíveis para atender e ouvir os pais e encarregados de educação, pois o contrário gera distanciamento. Conhecemos a experiência de uma escola em que, nos primeiros dias de aulas, os pais são apresentados para a escola: percorrem seu espaço, conhecem as salas de aulas de seus filhos, a cantina, a sala dos professores, a biblioteca e todos os docentes se apresentam. No dia seguinte o aluno leva fotos da sua casa, da sua história de vida e da sua família. Isto cria vínculos e tem um grande impacto na confiança que a família e a escola estabelecem entre si.
O poder público tem também a sua quota-parte de responsabilidade, no sentido de providenciar para que todos os cidadãos tenham acesso a uma boa educação escolar e sejam preparados para exercer devidamente os deveres e os direitos civis. Devem ainda velar pela competência do corpo docente e pela sua permanente formação contínua, visando sempre uma melhor formação possível dos alunos.
Em Cabo Verde, a participação de todas as entidades ligadas à educação, já referidas, está consagrada na Lei. As escolas devem acreditar no potencial das famílias, respeitar as suas opiniões e levar em consideração os seus sentimentos e emoções. As escolas começam a valorizar a interdependência, a reciprocidade e a tomada de certas decisões em conjunto.
 A Lei de Bases do sistema educativo cabo-verdiano – Decreto Legislativo nº 2/2010 de 7 de Maio, no seu artigo 4º (direitos e deveres no âmbito da educação) que apresenta-nos os direitos e os deveres das famílias, das autarquias locais e do Estado, em matéria de educação.
VI.           Os Catequistas e a educação integral

Queríamos também deixar uma mensagem aos catequistas, aqueles que colaboram com os pais e, em missão da Santa Igreja, ensinam a fé e a religião aos nossos filhos.
Dirigindo-se aos catequistas, religiosos e religiosas, o Papa Bento XVI disse-lhes que “a educação religiosa é um apostolado estimulante e existem muitos sinais de um desejo entre os jovens, de conhecer melhor a fé e de a praticar com determinação”.
Para o Papa Francisco, o coração do catequista vive sempre este movimento de «sístole-diástole», isto é, em união com Jesus, o catequista sai ao encontro dos outros. Ele está consciente de que recebeu o dom da fé e dela faz dom aos outros, sem reservar nenhuma percentagem para si! Tudo aquilo que recebe, dá-o. Não se trata de um negócio mas puro dom: dom recebido e dom transmitido. É um dom que gera missão, que impele sempre para além de si mesmo. São Paulo dizia: «O amor de Cristo nos impele»; isto é, «nos possui». É assim o amor: atrai-te e envia-te, toma-te e dá-te aos outros – disse o Papa.
O Papa pede aos catequistas para não terem medo, mesmo quando têm que andar longas distâncias ou atravessarem situações difíceis na sua missão, pois têm Deus na sua companhia. “Deus sempre nos precede”, disse. Quando pensamos que temos de ir para longe, para uma periferia extrema, talvez nos assalte um pouco de medo; mas na realidade Jesus está lá. Ele espera-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sem fé. Segundo o Papa, uma das periferias que lhe faz tão mal, “é a das crianças que não sabem fazer o Sinal da Cruz”.
Aos catequistas apelamos a serem testemunhos do amor de Deus na sociedade e que continuem a fazer fortalecer na fé, os nossos filhos, com vista a uma educação integral dos mesmos.
VII.         Considerações Conclusivas
A nossa intenção, durante toda a explanação, foi lançar pistas para o debate sobre as responsabilidades de cada um dos intervenientes no processo educativo, e que meios utilizar a fim de conseguirmos ter uma educação integral para os nossos filhos e/ou educandos. São pistas que esperamos venham enriquecer-se com a contribuição de cada educador presente nesta sala, durante o debate a seguir.
Queríamos, antes de terminar, deixar um apelo a todos, no sentido de continuarmos a ser aquele educador que ama a sua tarefa, ama o seu educando e a ele se dedica com altruísmo.
Bem-haja a APC-CV e todos os educadores de Cabo Verde.
Muito Obrigado pela atenção.

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