Duas
figuras máximas se encontram: o Precursor e o Messias. Quem
foi o Batista e por que quis Jesus ser batizado?
foi o Batista e por que quis Jesus ser batizado?
João
andava vestido de pêlo de camelo e trazia um cinto de couro em volta dos rins,
e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Ele pôs-se a proclamar: .Depois
de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me
prostrar para desatar-Lhe a correia do calçado. Eu vos batizei com água; Ele,
porém, vos batizar á no Espírito Santo.. Ora, naqueles dias veio Jesus de
Nazaré, da Galiléia, e foi batizado por João no Jordão. No momento em que Jesus
saía da água, viu os céus abertos e descer o Espírito em forma de pomba sobre
Ele. E ouviu-se dos céus uma voz: .Tu és o meu Filho muito amado; em Ti ponho
minha afeição. (Mc 1, 6-11).
No
trecho do Evangelho de domingo, tirado de São Marcos, temos o relato do
batismo mais simbólico de toda a história. É interessante conhecer
preliminarmente o fundo de quadro em que se passou esse tão
significativo fato.
Cortando
a antiga terra de Israel de norte a sul, o rio Jordão devia sua
importância aos acontecimentos históricos que transcorreram ao longo de
seu curso, mais do que ao fato de ser elemento indispensável para a
manutenção da vida naquele árido território.
Fora
ele palco de muitos milagres e assistira a cenas grandiosas, nas quais
brilhara a justiça de Deus. Contudo, por volta do ano 28 de nossa era, o
que ocorreu ali superava de longe todo o passado. João, filho do
sacerdote Zacarias, deixou seu isolamento no deserto e passou a
percorrer a região do rio, "pregando o batismo de arrependimento para a remissão dos pecados". (Lc 3, 3).
A corroborar sua autoridade moral, tinha o Batista sua vida de penitente do deserto, extraordinariamente santa e mortificada: "Andava vestido de pêlo de camelo e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e
alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre". Acrescia-lhe a reputação seu nascimento milagroso, de muitos conhecido.
Mais ainda: sabido era entre o povo eleito que fora profetizada a vinda de um precursor do Messias:
"Como está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: 'Uma voz
clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas
veredas". (Lc 3, 4). Suas exortações partiam, assim, de alguém com todas as credenciais de autenticidade para conduzir à conversão.
Havia cerca de 400 anos que nenhum profeta fazia ouvir sua voz em Israel.
Nada
mais explicável, pois, do que o alvoroço causado por São João Batista.
De todos os lados afluíam multidões para ouvi-lo. Vendo-as diante de si,
ele as admoestava, e suas palavras calavam fundo nas almas, levando
muitas ao arrependimento: "Dizia ele: Fazei penitência porque está próximo o Reino dos céus". (Mt 3, 2).
Símbolo da purificação da consciência, necessária para receber esse "reino dos céus" que estava "próximo", o batismo conferido por São João confirmava as boas disposições de seus ouvintes. "Confessavam seus pecados e eram batizados por ele nas águas do Jordão", conta São Mateus (3, 6).
Israelitas
de todas as classes acorriam ao profeta da penitência, dispostos a
purificar o coração. Entretanto, havia também os opositores. Saduceus,
fariseus e doutores da lei, que o viram inicialmente com bons olhos, não
demoraram a votar-lhe profunda antipatia. Incomodados com sua
extraordinária influência, irritados com as pregações, nas quais
condenava os vícios em que eles incorriam, passaram a agir contra João.
Questionaram seu direito de batizar e lhe prepararam armadilhas.
Demonstrando grande sagacidade, São João não se deixou enlear.
Inexorável para com os hipócritas e os soberbos, o profeta mostrava-se doce com os sinceros e os humildes. "Preparai-vos!" repetia incansavelmente, "abri a via do Senhor!"
Apareceram-lhe
discípulos, que o assistiam em seu ministério, e que passaram a
constituir um modelo de piedade mais fervorosa. Enfim, sua pregação
produzia um grande movimento popular rumo à virtude, como nunca se vira
na história de Israel.
A missão do Precursor era preparar os caminhos do Messias. Vivia, portanto, na expectativa do encontro com Ele. Não
esperou muito tempo. Certo dia, notou a presença de Jesus no meio dos
peregrinos. Tomado de sobrenatural emoção, inclinou-se para o
recém-chegado, esquivando-se de Lhe dar o batismo: "Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim!" Respondeu-lhe, porém, Jesus: "Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa". Obediente, São João O imergiu no Jordão.
Logo que saiu da água, Jesus se pôs a orar. Então o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Ele na forma de uma pomba. "E ouviu-se dos céus uma voz: Tu és o meu Filho muito amado; em ti ponho minha afeição".
Algum
tempo depois de batizar o Messias, São João caminha para o martírio,
deixando a cena histórica, como ele mesmo havia predito: "Importa que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3,30).
Entrara em cena o Salvador, estava cumprida a missão do Precursor.
Restava-lhe apenas o derradeiro ato de sua grandiosa vida: o martírio.
Conforme afirma São Tomás de Aquino, "todo o ensinamento e a obra de João eram preparatórias da obra de Cristo, como a do aprendiz e do operário
inferior é preparar a matéria para receber a forma que há de introduzir o principal artífice".
Os
grandes artistas tiveram aprendizes que pintaram as partes menos
importantes de seus quadros, ocupando- se eles apenas dos aspectos
essenciais. Também os grandes entalhadores tiveram auxiliares que
afiavam as ferramentas, limpavam o ateliê, faziam as compras das
madeiras apropriadas, etc. Assim foi o trabalho de São João, preparando a vinda de Nosso Senhor.
Diante
da altíssima vocação do Batista, os Doutores da Igreja exprimiram
sempre grande admiração. São Tomás de Aquino, por exemplo, colocava João
entre os profetas do Novo Testamento. Se o considerássemos do Antigo .
dizia o Aquinate . Seria maior que Moisés.
Já
São Francisco de Sales vê João como profeta do Antigo Testamento, a
última luz da Lei mosaica e - diz sem titubear - a maior.
De
qualquer modo, a grandeza de João era tal que o próprio Jesus declarou
ser ele mais que um profeta, acrescentando este elogio supremo: .Entre
os nascidos das mulheres, não veio outro ao mundo maior que João
Batista. (Mt 11, 11).
O
batismo conferido por São João não era da mesma natureza que o Batismo
sacramental, instituído posteriormente por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Provinha verdadeiramente de Deus, mas não tinha o poder de conferir a
graça santificante. O próprio Batista pôs em realce a diferença: "Eu
vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a
quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos
batizará no Espírito Santo e no fogo." (Lc 3, 16).
O efeito do batismo de João consistia num incentivo ao arrependimento dos pecados, explica São Tomás de Aquino. Ora,
em Jesus não havia sequer sombra de pecado, nem poderia haver, uma vez
que Ele era o Homem-Deus. Não tinha, portanto, matéria para
arrependimento e penitência. O que explica, então, que Ele tenha querido
ser batizado?
Várias são as razões dadas pelos Padres e Doutores da Igreja.
Eis
uma delas: quando o Verbo se fez Homem, Ele quis se sujeitar às leis
que regem a vida humana. Por exemplo, obedeceu às leis que estavam em
vigor entre os judeus, sendo apresentado no Templo após seu nascimento,
sofrendo a circuncisão, e cumprindo os ritos da Páscoa judaica. Assim,
quis também receber o batismo penitencial de João. Perdido no meio da
multidão,
Jesus . inocente . submeteu-se a um rito destinado ao pecador: "Convém cumpramos a justiça completa", justificou-se Ele perante o profeta.
Comentando essas palavras, Santo Agostinho diz que Nosso Senhor "quis fazer o que ordenou que todos fizessem". E Santo Ambrósio acrescenta: "A
justiça exige que comecemos por fazer o que queremos que os outros
façam, e exortemos os outros a nos imitarem pelo nosso exemplo".
Entre
as dez razões enumeradas na Suma Teológica para o batismo de Jesus, São
Tomás de Aquino coloca em destaque o objetivo da purificação das águas.
Citando Santo Ambrósio, diz o Doutor Angélico que "o Senhor foi batizado, não por querer purificar-se, mas para purificar as águas". Desse modo, continua ele, as águas "purificadas pelo contato com o corpo de Jesus Cristo, que não conheceu o pecado, tivessem a virtude de batizar". E conclui citando o mesmo argumento, de São João Crisóstomo, de que Jesus "deixou as águas santificadas para os que, depois, deveriam ser batizados".
Temos aqui um interessante problema teológico-metafísico: por que razão Deus escolheu a água como matéria para o Batismo?
A
água é um elemento rico em simbolismo. Por exemplo, é uma imagem da
exuberância de Deus. Basta considerar que três quartas partes da
superfície da Terra são constituídas por água.
Também
é símbolo de vida. É elemento essencial para a manutenção de todos os
seres vivos. Quanto mais abunda a água numa região, maior é a
quantidade de plantas e animais que ali se desenvolvem. Além disso, ela é
o elemento preponderante da matéria viva, de modo tal que o próprio
corpo humano é composto, na sua maior parte, de água.
Podemos
considerá-la também um símbolo da bondade, do carinho e da
magnanimidade de Deus para com a humanidade. Agrada ao ser humano vê-la
cair, em forma de chuva, cristalina, refrescante, tornando fértil o
solo, favorecendo as plantações, limpando o ar.
Vista
por outro prisma, tem ela uma potência descomunal de destruição. Apesar
de toda a técnica moderna, e de um presunçoso progresso que se julgou
capaz de um dia conseguir dominar os elementos da natureza, os homens se
espantam e se aterrorizam com a força destruidora das águas. E ainda
nisso ela é para nós um símbolo, o do poder onipotente de Deus.
Por
sua capacidade de lavar, ela lembra a limpeza espiritual. Por diversas
vezes a Sagrada Escritura assim a ela se refere, como no seguinte
trecho: "Derramarei sobre vós águas puras, que vos purificarão de
todas as vossas imundícies e de todas as vossas abominações" (Ez 36, 25).
Nessa passagem, o profeta Ezequiel prediz o batismo de São João e, mais
especialmente, o Batismo sacramental, instituído por Jesus. Do mesmo
modo, ele é referido por Zacarias, quando este diz: "Naquele dia
jorrará uma fonte para a casa de Deus e para os habitantes de Jerusalém,
que apagará os seus pecados e suas impurezas" (13, 1).
Nada
mais conveniente, portanto, do que a água ser a matéria do Batismo. E
nada mais adequado que Deus encarnado ter querido purificá-la pelo
contato de seu sacratíssimo corpo.
Outro
motivo, dos mais importantes, para o Senhor decidir sujeitar-se ao
ritual do Jordão era estimular nos homens o desejo do Batismo
sacramental. A recepção do Batismo é necessária para a salvação, como demonstram as palavras de Jesus a Nicodemos: "Quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus"(Jo 3, 5). Pelo tom categórico da afirmação, avalia-se a importância desse Sacramento.
O batismo de João levava ao arrependimento dos pecados, mas não tinha o poder de perdoá-los. O Batismo sacramental,
instituído por Jesus Cristo, tem efeitos infinitamente maiores.
Adão
transmitiu a todos os seus descendentes a culpa original. O Sacramento
do Batismo limpa a alma da mancha desse pecado, confere a graça
santificante, eleva o homem à condição de filho de Deus e abre-lhe as
portas do Céu. Ele é a chave de todos os outros Sacramentos,
indispensáveis para o homem cumprir com fidelidade a Lei de Deus.
Tal é a grandeza e a eficácia do Sacramento do Batismo.
"Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1, 29), declarou São João Batista a dois de seus discípulos, indicando Nosso Senhor Jesus Cristo que passava.
São
João Evangelista e seu irmão, São Tiago, que até então haviam seguido
fielmente o Batista, compreenderam que Jesus era Aquele ao qual deviam
entregar suas vidas. E deixando seu antigo mestre, procuraram logo o
Senhor, pedindo-Lhe permissão para O acompanharem e viver com Ele.
Pelos
séculos dos séculos, essas palavras do grande .profeta da penitência .
ressoarão no mundo, convidando todos os homens a também colocarem seus
olhos no Divino Salvador, a se encantarem com a figura d.Ele e . como
católicos fiéis . a seguirem seus mandamentos, até o momento em que
forem chamados para estar definitivamente com Ele, na vida Eterna. (Revista Arautos do Evangelho, Janeiro/2003, n. 13, p. 7 à 11)
Fonte: www.arautos.orgLink: http://www.arautos.org/especial/22447/Batismo-do-Senhor.html
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