Beata Maria Madalena Starace, Fundadora das Irmãs Servas de Maria
1. As
palavras do Evangelho de João agora proclamado, voltam todos os anos e
ajudam-nos a cumprir os dias da Oitava de Páscoa que como todos os
cinquenta dias deste tempo são vividos como se fossem um só dia, como o
único Oitavo Dia no qual o homem e toda a humanidade rejubilam pela
alegria do seu Senhor e Deus. Para que esta "alegria seja plena" (Jo 15,
24) e seja para todos, o Senhor Jesus apresenta-se aos seus discípulos
"na noite do mesmo dia" (20, 19), mas ainda vem dentro dos "oito dias
depois" (20, 26). Nestas notas redaccionais do texto é, de certo modo,
inaugurado o ritmo pascal da vida da Igreja que acolhe sempre na
expectativa da parusia a vinda do seu Senhor, esperando de domingo em
domingo não só encontrá-l'O ainda, mas encontrá-l'O melhor.
O solene rito da Beatificação da Madre
Maria Madalena Starace, Fundadora das Irmãs Servas de Maria, insere-se
muito bem neste contexto pascal e sem dúvida favorece o encontro com o
Ressuscitado.
O conjunto das Leituras bíblicas de
hoje, oferece-nos a visão do Ressuscitado que se apresenta aos Apóstolos
no esplendor da vitória sobre a morte, para lhes entregar a tarefa de
serem dispensadores da misericórdia divina: "Recebei o Espírito Santo.
Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados" (Jo 20,
22-23). O poder de cura espiritual que se realiza no mundo invisível,
mas real da fé, encontra visibilidade no poder da cura física dos
doentes, realizada também só com a sombra da passagem de Pedro, como nos
recordaram os Actos dos Apóstolos, na primeira leitura (Act 5, 15).
Acima de tudo sobressai a visão de
Cristo que aparece ao Apóstolo João, no Apocalipse (da segunda leitura
de hoje) para nos garantir que Ele é "o primeiro e o Último, o Vivente"
(Ap 1, 17-18).
2. Para a Madre Maria Madalena Starace,
Jesus era verdadeiramente "o Primeiro e o Último, o Vivente", basta
pensar que dedicava num só dia, por vezes oito horas, outras vezes cinco
horas contínuas ao diálogo com Deus. Ela dirigia o seu Instituto
ajoelhada diante do altar, falando primeiro ao Senhor da vida de cada
uma das fundações e dos problemas individuais das suas filhas.
Desde os anos da infância, vivida à
sombra da mãe tão devota da Virgem das Dores, foi-se radicando no
coração de Constância (assim se chamava no século a nossa Beata), o
estímulo a uma relação interior com Jesus cada vez mais forte. Quem a
orientou para as necessidades de se ocupar das necessidades da juventude
foi o Pastor da Diocese, animado por santo zelo, D. Petagna, que não
duvidou em lhe confiar a tarefa quer de dirigir um pequeno grupo de
jovens da Piedosa União das Filhas de Maria, quer de ensinar o catecismo
às crianças. O pequeno grupo cresceu, aumentaram as órfãs e também as
jovens dispostas a unir-se ao apostolado realizado pela irmã Starace,
até chegar à aprovação do novo Instituto das "Compassionistas" em 1871.
Sob a guia do novo Bispo, D. Sarnelli, a
Madre Madalena completou o seu caminho espiritual, chegando até aos
cumes da mística, treinando-se num rigoroso asceptismo e conseguindo
motivar profundamente a sua intensa actividade apostólica. O seu
critério fundamental apoiava-se na convicção incutiva nas suas
religiosas e nas suas assistidas que o feliz êxito na assistência às
pessoas idosas, na educação dos jovens, na doação de si a quantos
necessitavam de ajuda e de conforto, estava ligado à santificação
pessoal, à união profunda com Deus. À luz desta orientação é possível
compreender o motivo da vitalidade do Instituto por ela fundado, a sua
difusão nos vários continentes.
3. O Santo Padre Bento XVI recordou isto
na sua primeira Encíclica Deus caritas est, recordando a primazia da
caridade na vida do cristão e da Igreja, realçando que as testemunhas
privilegiadas desta primazia são os Santos, os quais fizeram da sua
existência, mesmo se com diversas tonalidades, um hino a Deus-Amor.
"Na verdade comentava o Santo Padre toda
a história da Igreja é história de santidade, animada pelo único Amor,
que tem a sua fonte em Deus". (cf. Angelus, 29 de Janeiro de 2006). De
facto, só mediante a caridade sobrenatural que brota sempre renovada do
coração de Cristo, se pode explicar o prodigioso florescimento de
santidade ao qual se assistiu ao longo dos dois mil anos do
cristianismo, e do qual esta região campana "Campania felix" seria
verdadeiramente o caso de repetir foi abundantemente fecundada.
Ao espírito de sacrifício e de
disponibilidade para ser vítima do amor divino, a Beata Maria Madalena
tinha sido predisposta pelo exemplo luminoso de Santa Margarida Alacoque
beatificada por Pio IX em 1864, com 19 anos de idade. O Coração de
Jesus, vítima sacrificada por nós, juntamente com a dor do Coração da
Mãe aos pés da Cruz, tornou-se o tema constante da reflexão espiritual
da Madre Starace. Falava disto, podemos dizer, quotidianamente às suas
Filhas, para as exortar à generosidade ao enfrentar os sacrifícios
exigidos para realizar a união profunda com Deus. Às provações Madre
Starace opunha a arma da oração, a aceitação da cruz e o abandono à
vontade de Deus. "Da Cruz não se desce escrevia mas ressuscita-se quando
tudo está cumprido".
Disto surge também a sua decisão audaz
de construir um templo para dedicar ao Coração de Jesus, na colina de
Scanzano. Conseguiu pagando um preço altíssimo de sacrifícios e de
humilhações, coroados pela consagração do Santuário celebrada por D.
Michele De Jorio, a 5 de Outubro de 1908.
4. Tomé não acreditou nas palavras dos
apóstolos: a sua desconfiança tinha talvez uma raiz de presunção e até
de receio por ter perdido um encontro com o Senhor. Jesus vai ao seu
encontro e mostra-lhe o sinal dos pregos. Gesto lindíssimo, que põe em
crise o orgulho do apóstolo. São suficientes poucas palavras e ele já
está ajoelhado para confessar a sua fé na Ressurreição: "Meu Senhor e
meu Deus" (Jo 20, 28).
Hoje muitas pessoas parecem-se com Tomé e
nós sofremos com isso: gostaríamos que Jesus viesse tirar-nos da
dificuldade, apresentando os sinais dos seus pregos aos incrédulos de
hoje. Mas não. Jesus deixou-nos: Ele quer que a sua Ressurreição se veja
através da vida dos cristãos.
Interroguemo-nos: que argumentos
oferecemos nós para ajudar os outros a crer? A fé precisa de testemunho,
a fé tem necessidade de exemplos. A beatificação da Madre Starace
recorda-nos também a nós como fez ela e todos os santos antes dela somos
chamados a apresentar aos "Tomés" do nosso tempo a marca dos pregos, as
feridas da caridade, o preço do serviço. Só assim seremos discípulos do
Senhor e anunciadores do seu Evangelho de misericórdia.
A nova Beata Maria Madalena, que hoje
veneramos, e da qual a Diocese e toda a população de Castellamare pode
justamente orgulhar-se, mostra-nos que força exercem no coração de Deus a
fé, a humildade, o sacrifício de si, a total abnegação pessoal, a
pobreza e a caridade vividas evangelicamente. Aprendamos dela a elevar o
olhar para o alto, para Aquele que é o Primeiro e o Último, o Vivo, em
cujo nome sacrificou a vida em benefício dos pobres, das crianças, dos
idosos e em cujo espírito educou as suas filhas, com a certeza de que só
vivendo assim se consegue ser felizes também na terra.
HOMILIA DO
CARDEAL JOSÉ SARAIVA MARTINS DURANTE O SOLENE RITO DE BEATIFICAÇÃO DE
MARIA MADALENA DA PAIXÃO (CONSTÂNCIA STARACE 1845-1921)
Fonte: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/csaints/documents/rc_con_csaints_doc_20070415_beatif-starace_po.html
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