A pedagogia Waldorf, introduzida em Portugal em 1984, aposta na liberdade de desenvolvimento das crianças, valorizando nos primeiros sete anos de vida o aspeto sensorial, em detrimento do intelectual.
Trabalhar a favor e não
contra a tendência natural das crianças para serem ativas, valorizar as
experiências sensoriais nos primeiros anos de vida e viver ao ritmo das
estações do ano, são alguns dos princípios da pedagogia Waldorf, ainda
pouco divulgada em Portugal.
De facto, apenas dois jardins de infância portugueses incluem
atividades como modelar cera de abelhas, costurar panos coloridos,
amassar e cozer pão, trabalhar com materiais naturais, como troncos de
madeira, conchas e cortiça, ou tratar da horta e do jardim. Estas são
atividades que, segundo a corrente pedagógica Waldorf, desenvolvem os
sentidos das crianças, estimulam a imaginação, a vitalidade e a alegria
de viver, apostando sempre numa maior ligação e respeito pela Natureza.
Ana Abreu, fundadora do Jardim de Infância S. Jorge, em
Alfragide, onde se encontram crianças entre os 4 meses e os 6 anos,
introduziu esta pedagogia alternativa em Portugal, em 1984. Segundo
explica esta educadora, a abordagem que o método Waldorf faz nos
primeiros anos de vida centra-se mais no desenvolvimento motor e
sensorial da criança, deixando para segundo plano os aspetos intelectual
e cognitivo.
"É muito importante que as crianças brinquem livremente e que
expressem aquilo que elas realmente sentem, ou seja, não a partir das
nossas agendas, mas a partir daquilo que elas necessitam desenvolver e
criar".
A formação Waldorf inclui as vertentes científica, artística e
estética. "A nossa prioridade é que a criança se revele como um ser
único, e portanto aquilo que lhe damos enquanto ambiente educativo é
para ela se desenvolver de acordo com a sua própria vontade, com o que
sente que precisa. Isso não quer dizer, no entanto, que ela não tenha
limites no seu processo de desenvolvimento", afirma.
Ana Abreu prefere usar o termo "processo de desenvolvimento" a
"processo educativo", porque acredita que as crianças não se educam: "Há
certos parâmetros que são comuns a todos nós, mas há outros que são
completamente individuais, que não são educáveis, antes pelo contrário,
são aquilo que cada criança traz. Um aspeto individual que é único e com
o qual todos nós também aprendemos", explica a responsável.
Mais a sul, no concelho Lagos, a alemã Eva Herre fundou em 1992 o
Jardim Infância Viva, em Barão de São João, que atualmente conta com 30
crianças.
Além da vertente artística, Eva Herre salienta também que a
pedagogia Waldorf está muito enraizada no respeito e na admiração pelo
Mundo, incutindo nas crianças a capacidade e a responsabilidade de
intervir na preservação da Natureza. "Os pais que procuram o nosso
jardim de infância desejam que os seus filhos tenham uma formação com
mais liberdade e em harmonia com a Natureza, saudável para o corpo, a
alma e o espírito."
Para a diretora do Jardim Infância Viva, o sistema Waldorf não é
só uma pedagogia, é também um método e uma atitude que tem a ver com uma
forma global de encarar o Mundo. "É importante dar tempo e espaço
suficientes para uma aprendizagem sem competição e sem pressas. A
pedagogia Waldorf é um movimento mundial com uma forte abordagem
multicultural, que torna as crianças mais autónomas e responsáveis, com
consciência étnica e respeito pela diversidade, procurando formas de se
integrar e participar numa sociedade saudável", explica.
No Jardim Infância Viva, a alimentação é constituída por pratos
vegetarianos e o ambiente é internacional, mas Eva assegura que o ensino
tem como base a língua e a cultura portuguesas.
É precisamente nesta questão que se reflete a única preocupação
relativamente a esta pedagogia manifestada por Teresa Vasconcelos,
diretora do Departamento de Educação de Infância e Especializações
Educativas da Escola Superior de Educação de Lisboa. "O modelo de
Waldorf é interessante, nomeadamente porque é contracorrente e procura
uma pedagogia alternativa, mesmo ao nível da alimentação. Mas,
obviamente, não será indicada para todas as crianças, porque é
necessário que as próprias famílias também se encontrem inseridas nessa
lógica de pensamento, seguindo um estilo de vida alternativo, com menor
consumismo e maior ligação à Natureza."
Teresa Vasconcelos entende também que na aplicação ao contexto
português, a pedagogia de Waldorf deveria ultrapassar os aspetos
específicos do país de onde é originária (Alemanha). Deveria ser "mais
permeável à realidade portuguesa e às nossas tradições, fazendo uma
maior aculturação ao contexto português", afirma a responsável.
Fundada por Rudolf Steiner em 1919, em Estugarda, na Alemanha,
inicialmente através de uma escola para os filhos dos operários da
fábrica de cigarros Waldorf-Astória, a pedagogia de Waldorf
distinguiu-se desde o início por ideais e métodos pedagógicos até hoje
considerados revolucionários.
Atualmente existem mais de 700 escolas em todo o Mundo que
trabalham com a pedagogia de Waldorf, sendo que em Portugal apenas os
dois jardins de infância referidos neste artigo e uma escola de educação
especial, em Seia, recorrem a esta pedagogia.
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