Por: Mariana Iecker Xavier Quimas de Oliveira
O teólogo Marie-Michael Philipon afirma que o
Espírito Santo é quem nos faz encontrar, em Deus, gozo e deleite, lembrando a
famosa a enumeração dos frutos do Espírito Santo dada por São Paulo aos Gálatas
(Gl 5, 22-23): caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade,
longanimidade, mansidão, fé, modéstia, continência e castidade.
Os frutos do Espírito Santo se
distinguem das virtudes do mesmo modo que uma potência difere do ato. Por esta
razão são chamados "frutos", pois o fruto é aquilo que a planta
produz ao atingir o auge de seu desenvolvimento e que traz em si certa
suavidade e deleite.
A princípio, os atos das virtudes
muitas vezes são difíceis e exigem esforço, assim como o fruto que ainda não
está maduro e que deixa os dentes embotados. No entanto, quando já se está
adestrado na prática da virtude, repete-se com facilidade e prontidão estes
atos; estes são os frutos. Em consequência disso, nem todos os atos de virtude
são merecedores do nome "fruto", somente aqueles que são acompanhados
de certo deleite espiritual.
"Trata-se, contudo, de um gozo
espiritual, que pode dar-se ainda em atos virtuosos que, como a paciência e a
longanimidade, se exercem em situações aflitivas. É uma satisfação para o
espírito não se sentir perturbado e conservar a paz e tranquilidade da alma em
meio às penalidades".
Uma vez que os frutos do Espírito
Santo advêm da prática assídua da virtude, é correto afirmar que a alegria é um
fruto do Espírito Santo, no sentido que procede da virtude. É importante
esclarecer que a verdadeira alegria não consiste na virtude; esta é apenas o
fundamento de um edifício muito mais excelente do que a virtude, que é o
próprio Deus e n'Ele a vida da graça. "A alegria [...] vem da paz de
consciência. Quando eu estou em ordem com Deus, estou em ordem com os seus
mandamentos, estou, portanto, dentro da graça de Deus, eu estou na
alegria", explica Monsenhor João
Scognamiglio Clá Dias
Pondera São Tomás que os atos de todos os demais dons que
orientam para o bem se reduzem à caridade, à alegria e à paz. A alegria figura
nesta enumeração seguindo a caridade, pois, como já foi visto, aquela procede
desta, de sorte que quem ama se alegra de estar unido ao amado, "a alegria
é a presença e a posse daquele a quem se ama". 5 A este respeito,
parafraseando um dito famoso de Dona Lucilia Corrêa de Oliveira, 6podemos
afirmar convictamente que alegrar-se é estar juntos, olhar-se e querer-se bem.
Apesar de tudo, alegre
Acabamos de ver que os frutos do
Espírito Santo são exercidos até mesmo em situações aflitivas e dramáticas. São
um sopro do Divino Espírito que dão paz e tranquilidade à alma em meio às
dificuldades, conforme afirma São Paulo em sua primeira carta aos Tessalonicenses
(I Ts 1, 6): "Vós vos tornastes imitadores nossos, e do Senhor, acolhendo
a Palavra com a alegria do Espírito Santo, apesar de tantas tribulações".
Portanto, aquela ideia hipotética de bem-aventurança terrena não tem
fundamento, pois a felicidade não pressupõe a ausência de sofrimento; a alegria
é fruto da caridade, do Espírito Santo, mas não do bem-estar terreno. Analisemos
um fato narrado pelo Professor Plinio Corrêa de Oliveira na Folha de São Paulo:
"Vindo uma vez São Francisco
de Perusa para Santa Maria dos Anjos com frei Leão, em tempo do inverno, e o
grandíssimo frio fortemente o atormentasse, [...] frei Leão perguntou-lhe: Pai,
peço-te, da parte de Deus, que me digas onde está a perfeita alegria. E São
Francisco assim lhe respondeu: Quando chegarmos a Santa Maria dos Anjos,
inteiramente molhados pela chuva e transidos de frio, cheios de lama e aflitos
de fome, e batermos à porta do convento, e o porteiro chegar irritado e disser:
Quem são vocês? E nós dissermos: Somos dois dos vossos irmãos, e ele disser:
Não dizem a verdade; são dois vagabundos que andam enganando o mundo e roubando
as esmolas dos pobres; fora daqui: e não nos abrir [...] então, se suportarmos
tal injúria e tal crueldade, tantos maus tratos, prazenteiramente, sem nos
perturbarmos e sem murmurarmos contra ele [...], nisso está a perfeita alegria.
E se ainda, constrangidos pela fome, pelo frio e pela noite batermos mais,
chamarmos e pedirmos pelo amor de Deus com muitas lágrimas que ele nos abra a
porta e nos deixe entrar, e se ele mais escandalizado disser: Vagabundos
importunos, pagar-lhes-ei como merecem; e sair com um bastão nodoso e nos
agarrar pelo capuz e nos atirar ao chão e nos arrastar pela neve e nos bater
com o pau de nó em nó; se nós suportarmos todas estas coisas pacientemente e
com alegria, pensando nos sofrimentos de Cristo Bendito, os quais devemos
suportar por seu amor: ó irmão Leão, escreve que aí e nisso está a perfeita
alegria".
Pareceria um paradoxo considerar este
testemunho partindo do princípio que a alegria deriva do encontro e da posse de
um bem; como encontrar alegria em meio a tal situação, onde parece não haver
bem nenhum? Do ponto de vista meramente natural, realmente seria impossível.
Entretanto, não se pode olvidar que a alegria é algo inteiramente transcendente
e sobrenatural.
A alegria cristã
"O homem, a mulher quando caem
numa situação de penúria, de sofrimento, de angústia, de drama tem dois
caminhos diante de si: um é a tristeza pela situação em que se encontra, outra
é a alegria. ‘Mas, escute, alegria? Alegria numa situação dessas? Isso é
sinônimo de loucura.' É sinônimo de loucura desde que a pessoa não esteja pondo
a sua alegria em Cristo Jesus. Porque se ela está sofrendo aquilo por um desígnio
de Deus, e se ela está sofrendo aquilo por permissão de Deus, é sinal de que a
vontade de Deus é que ela sofra".
O verdadeiro cristão deve seguir o
modelo do Divino Mestre na agonia do Horto das Oliveiras e no sacrifício do
Calvário chegando ao auge do sofrimento com um amor incondicional ao Pai.
"É misterioso, Ele está coberto de dores, mas se percebe n'Ele uma
congruência, um vigor, uma coerência, uma resignação que me levam a dizer:
nunca um homem foi tão invejável como o Homem-Deus no auge de sua tristeza".
"É por isso que nas igrejas
costuma-se colocar Cristo bem no alto e na atenção de todos. Porque ali está a
verdadeira alegria [em] considerar a cruz como um mérito, como um dom de Deus.
[...] A pessoa batizada passa por dramas, mas olhando, fixando a atenção bem no
olhar [...] vê-se um brilho por onde a pessoa tem uma substância, um suporte
que em certo momento pousa a graça de Deus, um toque do Espírito Santo, enche a
pessoa de ânimo e passa por aquela situação com outro estado de espírito".
É necessário ver a vida sempre de
dentro dos olhos de Deus, procurando o bem maior que Ele pretende quando
permite as tribulações, seja para nos provar na fé, ou simplesmente para nos
premiar com mais méritos no Céu. Precisamos considerar que todos os prazeres da
vida passam com a morte e o único que levaremos desta Terra quando levantarmos
voo rumo ao céu é o amor a Deus.
"O bom católico [...]
compreende o valor do sofrimento, do qual os pseudo-felizes tanto fogem. De
fato, a dor é para a alma humana o que é o fogo para um metal que deve ser
separado da ganga e purificado: sofre-se, porém com resignação e dignidade.
Isso dá à alma uma tranquilidade, uma harmonia, uma força que não há prazer que
pague. Oh, o bem estar da dor cristã!"
Esse é o verdadeiro espírito da
alegria!
Fonte: www.gaudiumpress.org
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