No Evangelho de Mateus, os milagres de Jesus alternam com os seus discursos ou palavras. No número anterior atravessámos o capítulo 13, nuclear neste Evangelho, que privilegia as parábolas para falar do mistério do Reino de Deus (Reino do Céu) e da Igreja. Neste, os dois movimentos vão repetir-se.
TEMPO COMUM
Nos Domingos XIX e XX continuamos a série de milagres iniciada no último Domingo; do XXI ao XXIV voltam as palavras, com incidência no tema da Igreja; no XXV e XXVI retomamos uma série de parábolas, que vão continuar em Outubro.
Confiança no silêncio e na tempestade
07 de Agosto
XIX DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: 1 Rs 19,9a.11-13a. Salmo 85,9ab-10. 11-12.13-14. R/ Mostrai-nos, Senhor, o vosso amor e dai-nos a vossa salvação. 2ª: Rm 9,1-5. Evangelho: Mt 14,22-33. III Semana do Saltério.
Por vezes, julgando conhecer Deus e a linguagem dos seus mistérios, limitamo-lo ou cingimo-lo à nossa medida, tomamos a fronteira como destino e ficamos sem horizonte de progressão na permanente procura da verdade. E somos surpreendidos como Elias, quando Deus muda de pedagogia e nos surge como/onde não pensávamos encontrá-lo. Depois de passar a noite numa gruta, no monte Horeb, o profeta recebera ordens de sair e permanecer no monte «à espera do Senhor». Mas não saiu de si mesmo, e daí a surpresa. Habituado a ouvir/ver Deus a céu aberto, no furacão ou no fogo, não o esperava numa «ligeira brisa» e «à entrada da gruta» (1ª Leitura)!
Outras vezes, ficamos assustados como os Apóstolos, que, não tendo entendido a fonte do poder de Jesus na multiplicação dos pães e dos peixes (os milagres não são evidências! – ver o Evangelho de Domingo passado), assustaram-se «vendo-o caminhar sobre o mar». Mas isso fá-los crescer: do medo inicial («pensando que era um fantasma, gritaram cheios de medo»), saiu a dúvida e o risco («Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas», disse Pedro) e depois o apelo na aflição («Salva-me, Senhor!»); da falta de fé («Homem de pouca fé, porque duvidaste?»), veio a adoração e a confissão de fé comunitário: «Prostraram-se diante de Jesus, e disseram-lhe: “Tu és verdadeiramente o Filho de Deus!”» Curiosamente, só quando «saíram do barco, o vento amainou», diz o texto. Aquele barco da descrença, não era o seu barco. Mesmo sendo figura da Igreja, era apenas um lugar de provação e purgação da fé. A dizer-nos que nem a própria Igreja está isenta de tempestades, mas que estas não são, forçosamente, o trágico naufrágio com que tantas vezes as queremos identificar, nem nos devem fazer descrer do timoneiro (Evangelho).
Como Elias, precisamos do silêncio e da reflexão para ouvir/ler/entender os novos sinais de Deus que cada dia renova todas as coisas (Ap 21,5). Para termos a fé dos Apóstolos, precisamos da oração de Jesus, que, entre o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes e a caminhada sobre as águas, «subiu a um monte para orar a sós». É a oração que nos faz entrar no mistério de Deus e reconhecer o «Filho de Deus» no Deus feito homem.
O Deus da «ligeira brisa» é o mesmo do «vento contrário» e das ondas bravas. É o Senhor da Natureza e da História, preside ao destino dos povos, mas tem outra linguagem para falar ao coração e convidar as pessoas à sua intimidade no dia a dia. É o Senhor da Comunidade: está connosco para não soçobrarmos às primeiras dúvidas ou dificuldades, e para emergirmos de novo, se nos afundarmos nelas.
Na gruta do coração, em silêncio, rezemos como a ciciante brisa: «Mostrai-nos, Senhor, o vosso amor/e dai-nos a vossa salvação.» E «o Senhor dará ainda o que é bom» (Salmo Responsorial).
Inclusão dos estrangeiros
14 de Agosto
XX DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: Is 56,1.6-7. Salmo 67,2-3.5.6.8. R/ Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra. 2ª: Rm 11,13-15.29-32. Evangelho: Mt 15,21-28. IV Semana do Saltério.
O problema da inclusão dos estrangeiros é antigo como a Bíblia e continua premente, hoje. Com as muitas leis a exortá-lo à santidade, a destacar a tribo de Levi para o culto e a definir tempos e modos para as festas e sacrifícios, o “povo eleito” erguera barreiras entre “eles” e “os outros”. Isaías, o profeta do «banquete para todos os povos» (Is 26,6), abre-as «aos estrangeiros que desejam unir-se ao Senhor para O servirem, para amarem o seu nome e serem seus servos», com estas condições: «se guardarem o sábado…, se forem fiéis à minha aliança… Os seus holocaustos e sacrifícios serão aceites no meu altar, porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.» Cessa a condição de nacionalidade, contando apenas a verdade do coração e da vida (1ª Leitura).
Paulo, «Apóstolo dos gentios», porque os da sua raça não aprenderam a lição de Isaías, dedica-se aos pagãos para que alguns judeus, ao menos moídos pelo ciúme, queiram ser salvos (2ª Leitura). Algo na linha de Mateus, que mostra uns magos a adorar o Messias, para interpelar os judeus que o rejeitaram e eliminaram.
Neste sentido vai o Evangelho: à mulher pagã que lhe pede a cura da filha «cruelmente atormentada por um demónio», Jesus faz-lhe sentir que os judeus tratam os gentios por “cães”; mas a mulher aguenta a prova e desarma-o com humildade e fé inesperadas: «É verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos.» E Jesus: «Mulher, é grande a tua fé. Faça-se como desejas.»
Aclamemos, com o Salmista:
«Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
e chegue o seu temor aos confins da terra» (Salmo responsorial).
“Chamarei o meu servo…”
21 de Agosto
XXI DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: Is 22,19-23. Salmo 138,1-2a.2bc-3.6. 8bc. R/ Senhor, a vossa misericórdia é eterna: não abandoneis a obra das vossas mãos.2ª: Rm 11,33-36. Evangelho: Mt 16,13-20. I Semana do Saltério.
Senhor, há só um: Deus; os outros são meros administradores em seu nome, e seus servos. Na 1ª Leitura, Isaías, em nome do Senhor, desmascara o nepotismo de Chebna, administrador do palácio real («vou expulsar-te do teu cargo, remover-te do teu posto»), e anuncia a sua substituição por um outro a quem chama «meu servo» e cujas características ultrapassam o nome de Eliacim, o seu tempo e o mero serviço humano:
«Porei aos seus ombros a chave da casa de David:
há-de abrir, sem que ninguém possa fechar;
há-de fechar, sem que ninguém possa abrir.
Fixá-lo-ei como uma estaca em lugar firme
há-de abrir, sem que ninguém possa fechar;
há-de fechar, sem que ninguém possa abrir.
Fixá-lo-ei como uma estaca em lugar firme
e ele será um trono de glória para a casa de seu pai.»
A profecia garante a estabilidade da casa de David, e nela vai incluído Jesus, descendente de David, na referência ao «trono de glória». O profeta Natan deu a mesma garantia a David (2 Sm 7,11-16), e o anjo Gabriel recordou-a a Maria: «O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim» (Lc 1,32-33). Depois, Jesus dirá: «Quem quiser ser grande entre vós, faça-se o vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos» (Mc 43b-45).
É neste espírito que Jesus confia a Pedro a primazia entre os doze: «sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus.» Mas, antes disso, foi preciso que Pedro o reconhecesse como «o Messias, Filho do Deus vivo». Para que não pusesse o seu ministério ao serviço dos seus e de si próprio, como fazia Chebna, mas fosse «um pai» para todos. E tudo conforme a palavra de Jesus, na parábola do bom servidor: «Assim, também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”» (Lc 17,10). Credibilizando, deste modo, o título de “servo dos servos de Deus”, que os papas se dão a si próprios. Até lá, é preciso seguir e ouvir o Mestre, para crer e passar na “prova de fé”: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (Evangelho).
Mas, em tudo isto proclama-se a gratuidade e o total senhorio de Deus: «Quem lhe deu primeiro, para que tenha de receber retribuição? D’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas. Glória a Deus para sempre. Ámen» (2ª Leitura).
«O Senhor é excelso e olha para o humilde,
ao soberbo conhece-o de longe.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
ao soberbo conhece-o de longe.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
não abandoneis a obra das vossas mãos» (Salmo responsorial).
As exigências do Amor
28 de Agosto
XXII DOMINGO COMUM
1ª: Jr 20,7-9. Salmo 63,2.3-4.5-6.8-9. R/ A minha alma tem sede de Vós, meu Deus. 2ª: Rm 12,1-2. Evangelho: Mt 16,21-27. II Semana do Saltério.
DEUS é um SEDUTOR: o seu amor cativa-nos, domina-nos, vence-nos, violenta-nos, cega-nos… ao ponto de, por tão cegamente o amarmos (ou melhor: nos deixarmos amar por Ele!), nos tornarmos «objecto de escárnio». Mas não devemos resistir-lhe nem deixar de falar dele. O prémio maior é sermos amados por Ele. Jeremias di-lo muito bem, e sofreu-o na carne (1ª Leitura).
DEUS é, para nós, uma SEGURANÇA: água para o nosso espírito árido e sequioso, graça mais valiosa que a vida, manjar saboroso que nos sacia, nosso refúgio, sombra com as suas asas, amparo com a sua mão… Mas não devemos reduzi-lo a um seguro de vida que nos deixe inactivos em cuidar dela, nem servi-lo por interesse, ou pensar que o crer nele nos dispensa de o procurar e nos livra do risco da fé. Daí precisarmos de actualizar cada dia esta rel(ig)ação amorosa com Ele («Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro»), de ansiar por Ele («A minha alma tem sede de Vós, meu Deus»), de o querer contemplar, de o bendizer toda a vida, de o louvar jubilosamente, e lhe dizer: «Unido a Vós estou, Senhor» (Salmo responsorial).
Mais: devemos dispor-nos à exigência de todo o amor, que faz de dois um só e os leva ambos a se imolarem (e emularem) um pelo outro. Daí Paulo: «Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais a vós mesmos como vítima santa, viva, agradável a Deus, como culto racional.» A linguagem é ritual, vem dos sacrifícios que no AT se imolavam a Deus. Os casais sabem disto, mas os místicos também conhecem esta linguagem. As suas biografias referem “casamentos” e “imolações” espirituais, em que elas ou eles preferem morrer a viver, para estar com o Amado. (2ª Leitura). Antecipo o que Paulo vai dizer-nos na 2ª Leitura do XXV Domingo: «para mim, viver é Cristo e morrer é lucro… não sei o que escolher» (Fl 1,21).
DEUS, por Jesus Cristo, CHAMA-NOS como discípulos E ENVIA-NOS. Mas não podemos pretender dar-lhe ordens, fazer o seu programa ou moldá-lo aos nossos interesses e projectos. Se quisermos seguir Jesus, devemos renunciar a nós mesmos, tomar a nossa cruz e ir atrásdele – vendo-o e ouvindo-o, para o imitarmos. Com a certeza de que, ao pretendermos salvar a nossa vida à margem d’Ele, perdemo-la; e, ao perder a nossa vida por sua causa, estamos a ganhá-la. Ora, «que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida?» E «que poderá dar o homem em troca da sua vida», para se permitir sacrificá-la a outros valores? (Evangelho).
«Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, ilumine os olhos do nosso coração, para sabermos a que esperança fomos chamados»(estrofe do Aleluia).
Sentinelas da palavra e ministros da reconciliação
04 de Setembro
XXIII DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: Ez 33,7-9. Salmo 95,1-2.6-7.8-9. R/ Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações. 2ª: Rm 13,8-10.Evangelho: Mt 18,15-20. III Semana do Saltério.
À sentinela compete dar ou ouvir e retransmitir a voz de alerta, para que todos os destinatários acordem e/ou fiquem vigilantes, preparando-se para um risco iminente. Se ele não transmitir a palavra de alerta, torna-se responsável pelas mortes ou acidentes que daí advenham. Aplicado às palavras de Deus que exortem o pecador à conversão: «Quando ouvires as palavras da minha boca, deves avisá-los da minha parte. […] Se tu não falares ao ímpio para o afastar do seu caminho, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas Eu pedir-te-ei contas da sua morte. Se tu, porém, avisares o ímpio, para que se converta do seu caminho, e ele não se converter, morrerá nos seus pecados, mas tu salvarás a tua vida». O bem ou o mal do outro não me podem ser indiferentes: co-responsabilizam-me, na proporção do risco por ele corrido. Se estiver em causa a salvação, o risco é total e a minha obrigação é absoluta e indesculpável (1ª Leitura).
No Evangelho, em exclusivo, Mateus alerta-nos para o mesmo. O texto fala da correcção fraterna e da oração comunitária em nome de Jesus. Em sintonia com a 1ª Leitura, Jesus diz-me: «se algum irmão te ofender» e com isso ferir a união comunitária, deves tentar reconduzi-lo; primeiro, falando pessoalmente com ele, depois, chamando duas ou três testemunhas. Falhando as tentativas anteriores, «comunica o caso à Igreja; e se também não der ouvidos à Igreja, considera-o como um pagão ou publicano». É a maior garantia de alguém se arrepender e emendar, e não partir logo para a denúncia pública ou para as “cartas abertas” hoje tão em moda para humilhar e pressionar o eventual culpável, encurralando-o e tornando-o mais irredutível para não “perder a face”.
Tratando-se da Igreja, o caso é mais grave pois está em jogo a sua identidade: o amor. E quantas tropelias do amor e da lei, em nome da fé e dos costumes! Vem muito a propósito a exortação de Paulo: «Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com os outros, pois, quem ama o próximo, cumpre a lei» (2ª Leitura).
A reconciliação é possível, pois, «em Cristo, Deus reconcilia o mundo consigo e confiou-nos a palavra da reconciliação» (refrão do Aleluia). Usemo-la evangelicamente.
«Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações» (Salmo responsorial).
Ter compaixão do outro como Deus a tem de nós
11 de Setembro
XXIV DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: Sir 27,33-28,9. Salmo 103,1-2.3-4.9-10.11-12. R/ O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. 2ª: Rm 14,7-9. Evangelho: Mt 18,21-35. IV Semana do Saltério.
A gente bem reza, uma vez e outra, no Pai-Nosso: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.» A maior parte das vezes, apenas com a boca, pois na vida continuamos intransigentes com o próximo. Para imaginarmos o que nos aconteceria se Deus fosse como nós e cumprisse à letra o que lhe rezamos, temos a parábola dos dois servos devedores, noEvangelho. O primeiro pediu ao rei um prazo para pagar a sua dívida avultada, e ele, «cheio de compaixão», concedeu-lho. No regresso, encontrou «um dos seus companheiros», que lhe devia muitíssimo menos: «segurando-o, começou a apertar-lhe o pescoço», exigindo o pagamento. O companheiro pediu-lhe o mesmo prazo que ele pedira ao rei; mas ele não consentiu e mandou-o prender «até que pagasse tudo quanto lhe devia». O rei, ao saber disso, mandou tratá-lo do mesmo modo que ele tratara o seu companheiro.
Isto de nos julgarmos mais ofendidos e com mais razões do que Deus, para não perdoarmos a quem nos deve ou nos ofende, é de um enorme desplante! Pedimos e espera-mos que Ele nos perdoe, e adiamos ou recusamos o perdão! Ben Sira já o dizia, numa linguagem que permanece actual:
«Um homem guarda rancor contra outro
e pede a Deus que o cure?
Não tem compaixão do seu semelhante
e pede perdão para os seus próprios pecados?»
Depois, diz, antecipando o Evangelho:
«Perdoa a ofensa do teu próximo
e pede a Deus que o cure?
Não tem compaixão do seu semelhante
e pede perdão para os seus próprios pecados?»
Depois, diz, antecipando o Evangelho:
«Perdoa a ofensa do teu próximo
e, quando o pedires, as tuas ofensas serão perdoadas.»
E acrescenta:
«O rancor e a ira são coisas detestáveis,
e o pecador é mestre nelas.»
Como remédio para a cura, faz várias exortações. Selecciono duas:
«Lembra-te do fim e deixa de ter ódio; […]
pensa na aliança do Altíssimo
e o pecador é mestre nelas.»
Como remédio para a cura, faz várias exortações. Selecciono duas:
«Lembra-te do fim e deixa de ter ódio; […]
pensa na aliança do Altíssimo
e não repares nas ofensas que te fazem» (1ª Leitura).
Hoje, a cristãos adultos, basta recordar a palavra de Jesus: «Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (estrofe do Aleluia).
Ou o amor de Deus para connosco, mesmo em linguagem do AT:
«Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades.
Salva da morte a tua vida
e cura as tuas enfermidades.
Salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e de misericórdia.
Não está sempre a repreender
nem guarda ressentimento
Não nos tratou segundo os nossos pecados
nem guarda ressentimento
Não nos tratou segundo os nossos pecados
nem nos castigou segundo as nossas culpas.»
Por isso,
«Bendiz a minha alma o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo» (Salmo responsorial).
“Ide vós também para a minha vinha”
18 de Setembro
XXV DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: Is 55,6-9. Salmo 145,2-3.8-9.17-18. R/ O Senhor está perto de quantos o invocam. 2ª: Fl 1,20c-24.27a. Evangelho: Mt 20,1-16a. I Semana do Saltério.
Chamo a atenção para o diálogo entre Deus e nós
estabelecido nas palavras da 1ª Leitura,
estabelecido nas palavras da 1ª Leitura,
que destaco a bold:
«Procurai o Senhor > enquanto se pode encontrar,
invocai-o > enquanto está perto…
Converta-se ao Senhor > que terá compaixão dele.
invocai-o > enquanto está perto…
Converta-se ao Senhor > que terá compaixão dele.
[converta-se] ao nosso Deus, > que é generoso em perdoar.»
O Salmo responsorial prolonga isto em oração
(era dele, o refrão do Salmo, no Domingo passado):
«O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.
… O Senhor está perto de quantos o invocam,
de quantos o invocam em verdade.»
Um Deus assim deve mover-nos a amá-lo e a servi-lo por amor. A isso nos convida Jesus, com a parábola dos convidados para a vinha. Ele/Deus, na pessoa do proprietário, chama nas várias horas do dia, como quem diz, nas várias fases da vida, e acolhe todas as respostas como igualmente meritórias, se dadas no amor e na disponibilidade.
Por isso, no fim retribui a todos por igual, sem a nossa lógica do mérito e do salário igual para trabalho igual. Como se tivéssemos qualquer direito diante dele, dá a todos o “ajustado”; mas, como tudo é gratuito, acaba por parecer mais generoso com os que trabalharam menos. Esta é a lição da parábola, respondendo à pergunta de Pedro em Mt 19, 27b-28: «Nós deixámos tudo e seguimos-te. Qual será a nossa recompensa?» Jesus sintetiza a resposta: «Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos» (Evangelho).
Se os salários não fossem “de fome”, todos trabalhariam com mais gosto e teriam mais empenho em salvar as empresas – e os patrões, que disso dependem. E acabariam os salários escandalosos, porque imerecidos. E “a crise”, talvez, mais depressa.
«Abri, Senhor, os nossos corações,
para aceitarmos a palavra do vosso Filho» (estrofe do Aleluia).
Não basta dever ou dizer: é preciso fazer
25 de Setembro
XXVI DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: Ez 18,25-28. Salmo 25,4-5.6-7.8-9. R/ Lembrai-Vos, Senhor, da vossa misericórdia. 2ª: Fl 2,1-11 [breve: Fl 2,1-5]. Evangelho: Mt 21,28-32. II Semana do Saltério.
No tempo de Ezequiel, o povo queixava-se de que Deus não era justo, pois condenava os que se afastavam da justiça. O profeta sai em defesa do «modo de proceder» de Deus: «Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal e vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida… há-de viver e não morrerá» (1ª Leitura). Pois, «por minha vida – oráculo do Senhor Deus – não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim na sua conversão, a fim de que tenha a vida. Afastai-vos desse mau caminho que seguis; por que persistis em querer morrer, casa de Israel?» (Ez 33,11).
A parábola dos dois filhos esclarece tudo: o convite de Deus à salvação deixa-nos livres; e Ele só toma a nossa última palavra como definitiva. O pai convidou os dois: «Filho, vai hoje trabalhar na vinha.» O que «fez a vontade do pai» não foi o que «respondeu: “Eu vou, Senhor”, mas de facto não foi»; e sim o que «respondeu: “Não quero”. Depois, porém, arrependeu-se e foi.» (Evangelho).
O Salmo responsorial dá razão ao profeta:
«O Senhor é bom e recto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.»
Por isso devemos rezar o refrão com toda confiança:
«Lembrai-vos, Senhor, da vossa misericórdia.»
Como quem diz: Lembrai-me, Senhor, que sois misericordioso, para que eu deixe os medos e cobardias e aceite o caminho da conversão.
A isso nos deve também mover o exemplo de Cristo: sendo Deus, aniquilou-se a si próprio, assumiu a condição humana de servo, humilhando-se ainda mais, até à morte de cruz. Tudo e só – para nos salvar! Paulo exorta os Filipenses a imitarem esses «mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus» e a terem entre eles «os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração», não fazendo «nada por rivalidade nem por vanglória». O Apóstolo pede-lhes que façam isso para completarem a sua alegria. Esta espécie de chantagem ou aliciamento psicológico em nome da amizade, noutro contexto, seria infantilização dos cristãos, como faz a mãe aos filhos pequenos; mas ele apenas se quis servir da estima que lhes tinha, para incitá-los ao seguimento de Cristo (2ª Leitura).
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