quinta-feira, 8 de setembro de 2011

À mesa da palavra: agosto e setembro de 2011

O que nos dizem as leituras do Evangelho nos meses de agosto e setembro?

No Evangelho de Mateus, os milagres de Jesus alternam com os seus discursos ou palavras. No número anterior atravessámos o capítulo 13, nuclear neste Evangelho, que privilegia as parábolas para falar do mistério do Reino de Deus (Reino do Céu) e da Igreja. Neste, os dois movimentos vão repetir-se.

TEMPO COMUM

Nos Domingos XIX e XX continuamos a série de milagres iniciada no último Domingo; do XXI ao XXIV voltam as palavras, com incidência no tema da Igreja; no XXV e XXVI retomamos uma série de parábolas, que vão continuar em Outubro.
Confiança no silêncio e na tempestade

07 de Agosto
XIX DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: 1 Rs 19,9a.11-13a. Salmo 85,9ab-10. 11-12.13-14. R/ Mostrai-nos, Senhor, o vosso amor e dai-nos a vossa salvação. 2ª: Rm 9,1-5. Evangelho: Mt 14,22-33. III Semana do Saltério.
Por vezes, julgando conhecer Deus e a linguagem dos seus mistérios, limitamo-lo ou cingimo-lo à nossa medida, tomamos a fronteira como destino e ficamos sem horizonte de progressão na permanente procura da verdade. E somos surpreendidos como Elias, quando Deus muda de pedagogia e nos surge como/onde não pensávamos encontrá-lo. Depois de passar a noite numa gruta, no monte Horeb, o profeta recebera ordens de sair e permanecer no monte «à espera do Senhor». Mas não saiu de si mesmo, e daí a surpresa. Habituado a ouvir/ver Deus a céu aberto, no furacão ou no fogo, não o esperava numa «ligeira brisa» e «à entrada da gruta» (1ª Leitura)!
Outras vezes, ficamos assustados como os Apóstolos, que, não tendo entendido a fonte do poder de Jesus na multiplicação dos pães e dos peixes (os milagres não são evidências! – ver o Evangelho de Domingo passado), assustaram-se «vendo-o caminhar sobre o mar». Mas isso fá-los crescer: do medo inicial («pensando que era um fantasma, gritaram cheios de medo»), saiu a dúvida e o risco («Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas», disse Pedro) e depois o apelo na aflição («Salva-me, Senhor!»); da falta de fé («Homem de pouca fé, porque duvidaste?»), veio a adoração e a confissão de fé comunitário: «Prostraram-se diante de Jesus, e disseram-lhe: “Tu és verdadeiramente o Filho de Deus!”» Curiosamente, só quando «saíram do barco, o vento amainou», diz o texto. Aquele barco da descrença, não era o seu barco. Mesmo sendo figura da Igreja, era apenas um lugar de provação e purgação da fé. A dizer-nos que nem a própria Igreja está isenta de tempestades, mas que estas não são, forçosamente, o trágico naufrágio com que tantas vezes as queremos identificar, nem nos devem fazer descrer do timoneiro (Evangelho).
Como Elias, precisamos do silêncio e da reflexão para ouvir/ler/entender os novos sinais de Deus que cada dia renova todas as coisas (Ap 21,5). Para termos a fé dos Apóstolos, precisamos da oração de Jesus, que, entre o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes e a caminhada sobre as águas, «subiu a um monte para orar a sós». É a oração que nos faz entrar no mistério de Deus e reconhecer o «Filho de Deus» no Deus feito homem.
O Deus da «ligeira brisa» é o mesmo do «vento contrário» e das ondas bravas. É o Senhor da Natureza e da História, preside ao destino dos povos, mas tem outra linguagem para falar ao coração e convidar as pessoas à sua intimidade no dia a dia. É o Senhor da Comunidade: está connosco para não soçobrarmos às primeiras dúvidas ou dificuldades, e para emergirmos de novo, se nos afundarmos nelas.
Na gruta do coração, em silêncio, rezemos como a ciciante brisa: «Mostrai-nos, Senhor, o vosso amor/e dai-nos a vossa salvação.» E «o Senhor dará ainda o que é bom» (Salmo Responsorial).

Inclusão dos estrangeiros

14 de Agosto
XX DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: Is 56,1.6-7. Salmo 67,2-3.5.6.8. R/ Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra. 2ª: Rm 11,13-15.29-32. Evangelho: Mt 15,21-28. IV Semana do Saltério.
O problema da inclusão dos estrangeiros é antigo como a Bíblia e continua premente, hoje. Com as muitas leis a exortá-lo à santidade, a destacar a tribo de Levi para o culto e a definir tempos e modos para as festas e sacrifícios, o “povo eleito” erguera barreiras entre “eles” e “os outros”. Isaías, o profeta do «banquete para todos os povos» (Is 26,6), abre-as «aos estrangeiros que desejam unir-se ao Senhor para O servirem, para amarem o seu nome e serem seus servos», com estas condições: «se guardarem o sábado…, se forem fiéis à minha aliança… Os seus holocaustos e sacrifícios serão aceites no meu altar, porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.» Cessa a condição de nacionalidade, contando apenas a verdade do coração e da vida (1ª Leitura).
Paulo, «Apóstolo dos gentios», porque os da sua raça não aprenderam a lição de Isaías, dedica-se aos pagãos para que alguns judeus, ao menos moídos pelo ciúme, queiram ser salvos (2ª Leitura). Algo na linha de Mateus, que mostra uns magos a adorar o Messias, para interpelar os judeus que o rejeitaram e eliminaram.
Neste sentido vai o Evangelho: à mulher pagã que lhe pede a cura da filha «cruelmente atormentada por um demónio», Jesus faz-lhe sentir que os judeus tratam os gentios por “cães”; mas a mulher aguenta a prova e desarma-o com humildade e fé inesperadas: «É verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos.» E Jesus: «Mulher, é grande a tua fé. Faça-se como desejas.»
Aclamemos, com o Salmista:
«Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
e chegue o seu temor aos confins da terra» (Salmo responsorial).

“Chamarei o meu servo…”

21 de Agosto
XXI DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: Is 22,19-23. Salmo 138,1-2a.2bc-3.6. 8bc. R/ Senhor, a vossa misericórdia é eterna: não abandoneis a obra das vossas mãos.2ª: Rm 11,33-36. Evangelho: Mt 16,13-20. I Semana do Saltério.
Senhor, há só um: Deus; os outros são meros administradores em seu nome, e seus servos. Na  Leitura, Isaías, em nome do Senhor, desmascara o nepotismo de Chebna, administrador do palácio real («vou expulsar-te do teu cargo, remover-te do teu posto»), e anuncia a sua substituição por um outro a quem chama «meu servo» e cujas características ultrapassam o nome de Eliacim, o seu tempo e o mero serviço humano:
«Porei aos seus ombros a chave da casa de David:
há-de abrir, sem que ninguém possa fechar;
há-de fechar, sem que ninguém possa abrir.
Fixá-lo-ei como uma estaca em lugar firme
e ele será um trono de glória para a casa de seu pai.»
A profecia garante a estabilidade da casa de David, e nela vai incluído Jesus, descendente de David, na referência ao «trono de glória». O profeta Natan deu a mesma garantia a David (2 Sm 7,11-16), e o anjo Gabriel recordou-a a Maria: «O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim» (Lc 1,32-33). Depois, Jesus dirá: «Quem quiser ser grande entre vós, faça-se o vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos» (Mc 43b-45).
É neste espírito que Jesus confia a Pedro a primazia entre os doze: «sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos Céus.» Mas, antes disso, foi preciso que Pedro o reconhecesse como «o Messias, Filho do Deus vivo». Para que não pusesse o seu ministério ao serviço dos seus e de si próprio, como fazia Chebna, mas fosse «um pai» para todos. E tudo conforme a palavra de Jesus, na parábola do bom servidor: «Assim, também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”» (Lc 17,10). Credibilizando, deste modo, o título de “servo dos servos de Deus”, que os papas se dão a si próprios. Até lá, é preciso seguir e ouvir o Mestre, para crer e passar na “prova de fé”: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (Evangelho). 
Mas, em tudo isto proclama-se a gratuidade e o total senhorio de Deus: «Quem lhe deu primeiro, para que tenha de receber retribuição? D’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas. Glória a Deus para sempre. Ámen» (2ª Leitura).
«O Senhor é excelso e olha para o humilde,
ao soberbo conhece-o de longe.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
não abandoneis a obra das vossas mãos» (Salmo responsorial).

As exigências do Amor

28 de Agosto
XXII DOMINGO COMUM
1ª: Jr 20,7-9. Salmo 63,2.3-4.5-6.8-9. R/ A minha alma tem sede de Vós, meu Deus. 2ª: Rm 12,1-2. Evangelho: Mt 16,21-27. II Semana do Saltério.
DEUS é um SEDUTOR: o seu amor cativa-nos, domina-nos, vence-nos, violenta-nos, cega-nos… ao ponto de, por tão cegamente o amarmos (ou melhor: nos deixarmos amar por Ele!), nos tornarmos «objecto de escárnio». Mas não devemos resistir-lhe nem deixar de falar dele. O prémio maior é sermos amados por Ele. Jeremias di-lo muito bem, e sofreu-o na carne (1ª Leitura).
DEUS é, para nós, uma SEGURANÇA: água para o nosso espírito árido e sequioso, graça mais valiosa que a vida, manjar saboroso que nos sacia, nosso refúgio, sombra com as suas asas, amparo com a sua mão… Mas não devemos reduzi-lo a um seguro de vida que nos deixe inactivos em cuidar dela, nem servi-lo por interesse, ou pensar que o crer nele nos dispensa de o procurar e nos livra do risco da fé. Daí precisarmos de actualizar cada dia esta rel(ig)ação amorosa com Ele («Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro»), de ansiar por Ele («A minha alma tem sede de Vós, meu Deus»), de o querer contemplar, de o bendizer toda a vida, de o louvar jubilosamente, e lhe dizer: «Unido a Vós estou, Senhor» (Salmo responsorial).
Mais: devemos dispor-nos à exigência de todo o amor, que faz de dois um só e os leva ambos a se imolarem (e emularem) um pelo outro. Daí Paulo: «Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais a vós mesmos como vítima santa, viva, agradável a Deus, como culto racional.» A linguagem é ritual, vem dos sacrifícios que no AT se imolavam a Deus. Os casais sabem disto, mas os místicos também conhecem esta linguagem. As suas biografias referem “casamentos” e “imolações” espirituais, em que elas ou eles preferem morrer a viver, para estar com o Amado. (2ª Leitura). Antecipo o que Paulo vai dizer-nos na 2ª Leitura do XXV Domingo: «para mim, viver é Cristo e morrer é lucro… não sei o que escolher» (Fl 1,21).
DEUS, por Jesus Cristo, CHAMA-NOS como discípulos E ENVIA-NOS. Mas não podemos pretender dar-lhe ordens, fazer o seu programa ou moldá-lo aos nossos interesses e projectos. Se quisermos seguir Jesus, devemos renunciar a nós mesmos, tomar a nossa cruz e ir atrásdele – vendo-o e ouvindo-o, para o imitarmos. Com a certeza de que, ao pretendermos salvar a nossa vida à margem d’Ele, perdemo-la; e, ao perder a nossa vida por sua causa, estamos a ganhá-la. Ora, «que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida?» E «que poderá dar o homem em troca da sua vida», para se permitir sacrificá-la a outros valores? (Evangelho).
«Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, ilumine os olhos do nosso coração, para sabermos a que esperança fomos chamados»(estrofe do Aleluia).

Sentinelas da palavra e ministros da reconciliação

04 de Setembro
XXIII DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: Ez 33,7-9. Salmo 95,1-2.6-7.8-9. R/ Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações. 2ª: Rm 13,8-10.Evangelho: Mt 18,15-20. III Semana do Saltério.
À sentinela compete dar ou ouvir e retransmitir a voz de alerta, para que todos os destinatários acordem e/ou fiquem vigilantes, preparando-se para um risco iminente. Se ele não transmitir a palavra de alerta, torna-se responsável pelas mortes ou acidentes que daí advenham. Aplicado às palavras de Deus que exortem o pecador à conversão: «Quando ouvires as palavras da minha boca, deves avisá-los da minha parte. […] Se tu não falares ao ímpio para o afastar do seu caminho, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas Eu pedir-te-ei contas da sua morte. Se tu, porém, avisares o ímpio, para que se converta do seu caminho, e ele não se converter, morrerá nos seus pecados, mas tu salvarás a tua vida». O bem ou o mal do outro não me podem ser indiferentes: co-responsabilizam-me, na proporção do risco por ele corrido. Se estiver em causa a salvação, o risco é total e a minha obrigação é absoluta e indesculpável (1ª Leitura).
No Evangelho, em exclusivo, Mateus alerta-nos para o mesmo. O texto fala da correcção fraterna e da oração comunitária em nome de Jesus. Em sintonia com a 1ª Leitura, Jesus diz-me: «se algum irmão te ofender» e com isso ferir a união comunitária, deves tentar reconduzi-lo; primeiro, falando pessoalmente com ele, depois, chamando duas ou três testemunhas. Falhando as tentativas anteriores, «comunica o caso à Igreja; e se também não der ouvidos à Igreja, considera-o como um pagão ou publicano». É a maior garantia de alguém se arrepender e emendar, e não partir logo para a denúncia pública ou para as “cartas abertas” hoje tão em moda para humilhar e pressionar o eventual culpável, encurralando-o e tornando-o mais irredutível para não “perder a face”.
Tratando-se da Igreja, o caso é mais grave pois está em jogo a sua identidade: o amor. E quantas tropelias do amor e da lei, em nome da fé e dos costumes! Vem muito a propósito a exortação de Paulo: «Não devais a ninguém coisa alguma, a não ser o amor de uns para com os outros, pois, quem ama o próximo, cumpre a lei» (2ª Leitura).
A reconciliação é possível, pois, «em Cristo, Deus reconcilia o mundo consigo e confiou-nos a palavra da reconciliação» (refrão do Aleluia). Usemo-la evangelicamente. 
«Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações» (Salmo responsorial).

Ter compaixão do outro como Deus a tem de nós

11 de Setembro
XXIV DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: Sir 27,33-28,9. Salmo 103,1-2.3-4.9-10.11-12. R/ O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade. 2ª: Rm 14,7-9. Evangelho: Mt 18,21-35. IV Semana do Saltério.
A gente bem reza, uma vez e outra, no Pai-Nosso: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.» A maior parte das vezes, apenas com a boca, pois na vida continuamos intransigentes com o próximo. Para imaginarmos o que nos aconteceria se Deus fosse como nós e cumprisse à letra o que lhe rezamos, temos a parábola dos dois servos devedores, noEvangelho. O primeiro pediu ao rei um prazo para pagar a sua dívida avultada, e ele, «cheio de compaixão», concedeu-lho. No regresso, encontrou «um dos seus companheiros», que lhe devia muitíssimo menos: «segurando-o, começou a apertar-lhe o pescoço», exigindo o pagamento. O companheiro pediu-lhe o mesmo prazo que ele pedira ao rei; mas ele não consentiu e mandou-o prender «até que pagasse tudo quanto lhe devia». O rei, ao saber disso, mandou tratá-lo do mesmo modo que ele tratara o seu companheiro.
Isto de nos julgarmos mais ofendidos e com mais razões do que Deus, para não perdoarmos a quem nos deve ou nos ofende, é de um enorme desplante! Pedimos e espera-mos que Ele nos perdoe, e adiamos ou recusamos o perdão! Ben Sira já o dizia, numa linguagem que permanece actual:
«Um homem guarda rancor contra outro
e pede a Deus que o cure?
Não tem compaixão do seu semelhante
e pede perdão para os seus próprios pecados?»
Depois, diz, antecipando o Evangelho:
«Perdoa a ofensa do teu próximo
e, quando o pedires, as tuas ofensas serão perdoadas.»
E acrescenta:
«O rancor e a ira são coisas detestáveis,
e o pecador é mestre nelas.»
Como remédio para a cura, faz várias exortações. Selecciono duas:
«Lembra-te do fim e deixa de ter ódio; […]
pensa na aliança do Altíssimo
e não repares nas ofensas que te fazem» (1ª Leitura).
Hoje, a cristãos adultos, basta recordar a palavra de Jesus: «Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (estrofe do Aleluia).
Ou o amor de Deus para connosco, mesmo em linguagem do AT:
«Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades.
Salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e de misericórdia.
Não está sempre a repreender
nem guarda ressentimento
Não nos tratou segundo os nossos pecados
nem nos castigou segundo as nossas culpas.»
Por isso,
«Bendiz a minha alma o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo» (Salmo responsorial).

“Ide vós também para a minha vinha”

18 de Setembro
XXV DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: Is 55,6-9. Salmo 145,2-3.8-9.17-18. R/ O Senhor está perto de quantos o invocam. 2ª: Fl 1,20c-24.27a. Evangelho: Mt 20,1-16a. I Semana do Saltério.
Chamo a atenção para o diálogo entre Deus e nós
estabelecido nas palavras da
 1ª Leitura,
que destaco a bold:
«Procurai o Senhor > enquanto se pode encontrar,
invocai-o > enquanto está perto
Converta-se ao Senhor > que terá compaixão dele.
[converta-se] ao nosso Deus, > que é generoso em perdoar

O Salmo responsorial prolonga isto em oração
(era dele, o refrão do Salmo, no Domingo passado):
«O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
O Senhor é bom para com todos
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas.
… O Senhor está perto de quantos o invocam,
de quantos o invocam em verdade.»
Um Deus assim deve mover-nos a amá-lo e a servi-lo por amor. A isso nos convida Jesus, com a parábola dos convidados para a vinha. Ele/Deus, na pessoa do proprietário, chama nas várias horas do dia, como quem diz, nas várias fases da vida, e acolhe todas as respostas como igualmente meritórias, se dadas no amor e na disponibilidade.
Por isso, no fim retribui a todos por igual, sem a nossa lógica do mérito e do salário igual para trabalho igual. Como se tivéssemos qualquer direito diante dele, dá a todos o “ajustado”; mas, como tudo é gratuito, acaba por parecer mais generoso com os que trabalharam menos. Esta é a lição da parábola, respondendo à pergunta de Pedro em Mt 19, 27b-28: «Nós deixámos tudo e seguimos-te. Qual será a nossa recompensa?» Jesus sintetiza a resposta: «Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos» (Evangelho).
Se os salários não fossem “de fome”, todos trabalhariam com mais gosto e teriam mais empenho em salvar as empresas – e os patrões, que disso dependem. E acabariam os salários escandalosos, porque imerecidos. E “a crise”, talvez, mais depressa.
«Abri, Senhor, os nossos corações,
para aceitarmos a palavra do vosso Filho» (estrofe do Aleluia).

Não basta dever ou dizer: é preciso fazer

25 de Setembro
XXVI DOMINGO COMUM
LEITURAS: 1ª: Ez 18,25-28. Salmo 25,4-5.6-7.8-9. R/ Lembrai-Vos, Senhor, da vossa misericórdia. 2ª: Fl 2,1-11 [breve: Fl 2,1-5]. Evangelho: Mt 21,28-32. II Semana do Saltério.
No tempo de Ezequiel, o povo queixava-se de que Deus não era justo, pois condenava os que se afastavam da justiça. O profeta sai em defesa do «modo de proceder» de Deus: «Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal e vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida… há-de viver e não morrerá» (1ª Leitura). Pois, «por minha vida – oráculo do Senhor Deus – não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim na sua conversão, a fim de que tenha a vida. Afastai-vos desse mau caminho que seguis; por que persistis em querer morrer, casa de Israel?» (Ez 33,11).
A parábola dos dois filhos esclarece tudo: o convite de Deus à salvação deixa-nos livres; e Ele só toma a nossa última palavra como definitiva. O pai convidou os dois: «Filho, vai hoje trabalhar na vinha.» O que «fez a vontade do pai» não foi o que «respondeu: “Eu vou, Senhor”, mas de facto não foi»; e sim o que «respondeu: “Não quero”. Depois, porém, arrependeu-se e foi.» (Evangelho).

O Salmo responsorial dá razão ao profeta:
«O Senhor é bom e recto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.»
Por isso devemos rezar o refrão com toda confiança:
«Lembrai-vos, Senhor, da vossa misericórdia.»
Como quem diz: Lembrai-me, Senhor, que sois misericordioso, para que eu deixe os medos e cobardias e aceite o caminho da conversão.
A isso nos deve também mover o exemplo de Cristo: sendo Deus, aniquilou-se a si próprio, assumiu a condição humana de servo, humilhando-se ainda mais, até à morte de cruz. Tudo e só – para nos salvar! Paulo exorta os Filipenses a imitarem esses «mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus» e a terem entre eles «os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração», não fazendo «nada por rivalidade nem por vanglória». O Apóstolo pede-lhes que façam isso para completarem a sua alegria. Esta espécie de chantagem ou aliciamento psicológico em nome da amizade, noutro contexto, seria infantilização dos cristãos, como faz a mãe aos filhos pequenos; mas ele apenas se quis servir da estima que lhes tinha, para incitá-los ao seguimento de Cristo (2ª Leitura).



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