quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O que é a Nova Evangelização?



O que é a Nova Evangelização?
"A Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã" é o título da XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, convocada pelo Santo Padre na abertura do ano da Fé. Ora, em que consiste ela?
A expressão "Nova Evangelização" foi usada, pela primeira vez, pelo Papa João Paulo II. Designa uma característica peculiar de seu pontificado. Trata-se mais de uma intuição do que de um projeto. É bem verdade que ele falou também de métodos e de novo ardor, mas não explicou em que consistem esses métodos.
Essa expressão tem sido usada também para designar "segunda evangelização", principalmente com relação aos países de antiga cristandade que sofreram o impacto da cosmovisão da modernidade.
Nem mesmo o texto dos Lineamenta, destinado a promover uma primeira reflexão sobre o tema do Sínodo consegue expor claramente o conceito de Nova Evangelização, seus métodos e objetivos.
Neste artigo, desenvolverei o tema, dando os seguintes passos: o que é evangelizar, qual o significado da expressão "Nova Evangelização", seu contexto e conteúdo.
O que é evangelizar
Paulo VI, na Exortação Apostólica pós-sinodal Evangelii nuntiandi, afirma que evangelizar é anunciar Jesus Cristo: sua vida, sua Palavra, seu Reino, sua Morte e Ressurreição. 1 Podemos dizer que ela compreende também o Dom do Espírito Santo, pois "não foi senão depois da vinda do Espírito Santo, no dia do Pentecostes, que os Apóstolos partiram para todas as partes do mundo a fim de começarem a grande obra da evangelização da Igreja".2
Bento XVI, na Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, afirma que existe um único Verbum que se manifesta numa sinfonia de vozes que vai desde a criação, passando pela Sagrada Escritura, até o silêncio da Cruz. Conclui afirmando que a pessoa de Jesus Cristo é a Boa-nova que anunciamos.
Mas Cristo, Verbo encarnado, não é só objeto da evangelização. Ele é também o sujeito da evangelização. Esta afirmação tem o seu fundamento na doutrina de Santo Agostinho. Ao comentar a expressão de João Batista, "Eu sou a voz que clama no deserto" (Jo 1, 23), Agostinho afirma que João Batista é a voz da Palavra. Continua ele: vozes da Palavra foram os patriarcas, os profetas e os apóstolos. E conclui: "É preciso que todas as vozes diminuam para fazer progressos no conhecimento de Cristo".5 Porque todos aqueles que evangelizam são vozes de uma única Palavra, de um único Verbo.
Como a Igreja é o Corpo de Cristo, a evangelização compreende também as tarefas eclesiais: os Sacramentos, as pastorais, o testemunho cristão, a vida consagrada. Na Exortação Apostólica pós sinodal Vita consecrata, afirma João Paulo II que a vida consagrada é uma vida em missão.6
Podemos afirmar que também a promoção da dignidade humana e da justiça, realizada como imperativo da fé e do amor ao próximo, é componente da evangelização.
Alguns consideram como evangelização o diálogo da Igreja com as religiões. Contudo, João Paulo II, na Encíclica Redemptoris Missio, afirma que o diálogo com as religiões não substitui o anúncio explícito de Jesus Cristo. Ao contrário, ele tende a esse anúncio. Além disso, o diálogo com as religiões deve ser conduzido com a consciência de que a Igreja é o caminho ordinário para a salvação e que só ela possui todos os meios salvíficos.7
Nova Evangelização
O termo Nova Evangelização foi usado por João Paulo II por referência à primeira evangelização da América Latina, no sentido de continuá-la, completá-la e renová-la de acordo com as novas condições, necessidades e exigências de nossos povos. Em seguida, o conceito foi transferido para o caso dos países descristianizados da Europa, envolvidos pela cultura da modernidade. Finalmente, a expressão se universalizou de modo que atualmente designa, sobretudo, a evangelização da cultura. A cultura é, pois, o centro, o meio e o objetivo da Nova Evangelização.
Nas últimas quatro décadas, se desenvolveu na Igreja uma ampla e profunda reflexão sobre o significado da cultura e sua relação com a mensagem cristã e a missão da Igreja. Essa reflexão foi motivada, durante o Concílio Vaticano II, pela tomada de consciência dos problemas da evangelização nos países de missão ad gentes. A preocupação era como adaptar a mensagem cristã às culturas locais. Outro fator foi a crise provocada nos países de antiga cristandade frente à cosmovisão da modernidade.
A cultura compreende o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das faculdades do espírito e do corpo; o conhecimento e o trabalho pelos quais se procura submeter a Terra; a humanização da vida social que se beneficia mediante o progresso dos costumes e instituições. Compreende as descobertas científicas, valores estéticos, intuições filosóficas, morais e religiosas. Compreende os estilos de vida e as diferentes escalas de valores. A cultura, pois, expressa a identidade histórica e social dos seres humanos. Ela está marcada pela historicidade. Portanto, existe não só a cultura em geral, mas a diversidade de culturas.
A Gaudium et spes destaca a cultura como dimensão essencial e, portanto, universal do ser humano.8 Por ela, o ser humano se humaniza. É a cultura que distingue o homem dos animais e das coisas da natureza. Por meio da cultura, o homem se humaniza, humaniza a natureza e o mundo que o rodeia. Humaniza-se porque desenvolve suas potencialidades subjetivas.
O drama do nosso tempo, afirmou o Papa Paulo VI, é a ruptura entre o Evangelho e a cultura.9 Segundo ele, o processo evangelizador da cultura é o seguinte:
a) levar a Boa-nova a todos os ambientes da humanidade e, com seu influxo, transformar, a partir de dentro, a própria humanidade;
b) converter, ao mesmo tempo, a consciência pessoal e coletiva dos homens, sua vida e ambiente concretos;
c) "chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação".10
A ação evangelizadora da Igreja se exerce no reconhecimento dos autênticos valores culturais e no empenho por sua consolidação e fortalecimento, e, também, pela denúncia e purificação dos contravalores que revelam a presença do pecado. O discernimento evangélico das culturas é o ponto inicial em todo o processo de inculturação do Evangelho.
Desafios culturais enfrentados pela Nova Evangelização
Um dos desafios mais importantes é a aceitação de Deus como Fundamento, não só do universo e da vida em geral, mas também da reta conduta humana, portanto, da justiça, da fraternidade e da paz.
Existe também a dificuldade de conciliar vivência democrática e respeito aos valores morais. Muitos acham que a legalização do aborto, o reconhecimento jurídico de união de homossexuais, a legalização da eutanásia, fazem parte da vivência democrática.
Existe ainda o desafio de conciliar o respeito pela ecologia ambiental e o respeito pela ecologia humana. Como afirmou Bento XVI, na Encíclica Caritas in veritate, ambas fazem parte do único livro da natureza. Sem respeito pela ecologia humana, a consciência comum não conseguirá respeitar também a ecologia
Quanto à secularização, como ela não assume publicamente um discurso explícito contra Deus e contra a religião, facilmente penetra na mentalidade das pessoas. Quando penetra na mentalidade dos cristãos, a consequência é dramática: leva ao esquecimento do primado da graça. Tudo então passa a ser encarado de modo humano. Até mesmo o pecado passa a ser visto como uma patologia psicológica, política e social, e não como um fato que aliena com relação a Deus e ao próximo.
Além da secularização, que se difunde cada vez mais, é necessário também levar em consideração que existe, hoje, uma sede de espiritualidade, pressuposto para a Nova Evangelização.
Quanto à questão de Deus, ela deve ser tratada, sobretudo, através do diálogo e do testemunho de vida.
O Papa Bento XVI se referiu ao Pátio dos Gentios, lugar reservado, no Templo de Jerusalém, para a adoração de Deus por parte dos pagãos. Hoje é necessário criar modalidades de espaço de gentios para um diálogo com aqueles que estão insatisfeitos com seus mitos, ritos e deuses; diálogo com aqueles que colocam a questão de Deus. O simples fato de colocar a questão de Deus talvez já seja sinal de uma busca, de uma ação no Espírito Santo na consciência da pessoa.
Conclusão
O mundo atual está de tal modo envolvido por grandes transformações culturais que muitos chegam a falar de uma mudança de época ou de uma nova época da humanidade. Por outro lado, ganha mais espaço o secularismo que tenta reduzir Deus a uma hipótese inútil e excluir a religião do âmbito da vida pessoal e social. Essa postura tem consequências negativas para o sentido da vida, para a reta conceção da conduta humana, para o relacionamento do homem com a natureza, consigo mesmo e com a sociedade.
A Nova Evangelização não é um julgamento da evangelização precedente, como se esta não tivesse sido válida. Trata-se, agora, de enfrentar os novos desafios surgidos das transformações culturais que expressam uma nova época da humanidade. Trata-se de uma nova necessidade, ou seja, de uma nova expressão do espírito missionário sempre presente na Igreja. A evangelização, independentemente de ser denominada nova, parte sempre do fato de que o desejo de Deus está radicado na interioridade profunda do ser humano. A evangelização é a resposta a uma busca, a um anseio do coração humano.
(Dom Benedito Beni dos Santos é um dos 40 convidados por Bento XVI para participar da XIII Assembleia Geral Ordinária - do Sínodo dos Bispos) - (Revista Arautos do Evangelho, Nov/2012, n. 131, p. 24 à 26)

Sem comentários:

Enviar um comentário